terça-feira, 10 de novembro de 2009

O inusitado caso da aluna Geisy - um regresso às trevas?

 

Os avanços que a tecnologia e o conhecimento científico têm trazido, especialmente de meados do século XX para cá, são fatores que fizeram com que muitos historiadores, estudiosos e outros especialistas do estudo da evolução humana nominassem a época atual como depositária dessas conquistas e, por conseguinte, beneficiária dos processos civilizatórios em expansão, a despeito da não-reversão dessas melhorias em prol de uma efetiva minimização do sofrimento humano em lugares como no continente africano, ou nas incontáveis periferias de países como Brasil, Índia, e talvez centenas de outras pobres nações, como as da América Latina e da Ásia.

Mas o que, por exemplo, teria a ver o inexplicado caso da agressão a aluna Geisy, da universidade Uniban, em São Paulo, com a perspectiva generosa de melhora dos padrões de comportamento humano no mundo? Como entender as cenas de quase linchamento protagonizadas por alunos universitários – homens e mulheres -, o que é ainda mais grave, contra uma moça cujo crime, a rigor cometido, foi valer-se do seu direito à liberdade?

Uma atitude medieval, um regresso à idade das trevas ou havíamos todos nos enganado, na ilusão de um aumento de ganho civilizatório continuado, desde o florescer dos ideais iluministas e do panorama promissor que os movimentos revolucionários nos prometeram a partir da revolução francesa até a utopia dos sonhos de alcance de uma sociedade de iguais, com a revolução bolchevique de 1917, na Rússia?

Onde estão as teses da contraposição às alienações, às quais muitos de nós nos agarramos esperançosos de que o acúmulo de experiências cívicas e os ganhos advindos do processo democrático poderiam ir suplantando velhos e inadequados comportamentos culturais, em nome de uma geração que, por mais civilizada, seria também, mais respeitosa e mais tolerante com as diferenças?

É estarrecedor o quadro de iniquidade cívico/educativo, de machismo, de desejo reprimido e de ignorâncias outras, cometido e exposto pelos alunos e alunas da Uniban, com o uso dos instrumentos da modernidade, como as câmeras dos celulares, dos e-mails, do twiter, na torpe e alienada agressão cometida contra a aluna Geisy. E isso para não perder tempo em comentar a outra estupidez, que em nome do dinheiro, a universidade(?), por seu “Conselho” praticou, ao querer expulsar a moça.

Meu Deus, é triste, mas o que parece se extrair de concreto dessa tosca circunstância de horror e intolerância é uma constatação dolorosa: estamos retrocedendo naquilo que supostamente achávamos vir, como seres humanos, avançando, ou seja, na prática dos princípios de civilidade e de conquista de cidadania.

Parecia razoável se pensar que ao nos libertarmos de nossas ignorâncias naturais ou das contra-heranças culturais carregadas pelo DNA do atraso, daquilo que sob o olhar humano se reveste de mais deplorável, estaríamos caminhando para o encontro de um novo ser, e deixando para trás as marcas vergonhosas do agir pelo instinto, em detrimento da razão.
Se esse pensar não fazia sentido algum, como este grotesco e preconceituoso episódio faz sugerir, então estamos a regressar pelo trem do obscurantismo cívico e cultural. Que pena!


Um comentário:

Anônimo disse...

É meu caro Chico, isso não é apenas desrespeitoso, mas chocante sobre todos os sentidos. Tomara que esses trogloditas parem para raciocinar, agora.