terça-feira, 3 de novembro de 2009

“Um eleitorado mais exigente”?

O título pertence à matéria de autoria da jornalista Maria Inês Nassif, que escreve às quintas-feiras, no jornal Valor Econômico, e foi publicada no dia 29 do mês que passou.

A repórter especula que a partir de 2006, a política eleitoral “foi marcada pelo fenômeno de deslocamento de voto dos humores da classe média urbana que, ao longo da história da República, funcionou como uma caixa de ressonância das elites econômicas” Ela sugere que a ascensão ao mercado de consumo de grande parcela de excluídos, por meio do Bolsa Família, tenha produzido uma “autonomia do voto” desses setores menos favorecidos e ignorados politicamente, sob o ponto de vista de consciência e, por outro lado, teria reduzido o papel de formadores de opinião das chamadas classes médias.

A autora do artigo cita dois dados importantes de mobilidade social distintos. Um , que na sua visão já é consolidado, ou seja, de que nas eleições de 2006, foi predominante o ingresso ao mercado de consumo de grande parcela da população. O outro, a ser comprovado, sugere que em 2010, terá forte influência sobre o pleito eleitoral a ascensão à classe média de grandes contingentes das camadas populares.

É fato, o surgimento de um movimento tímido de ascensão social entre as camadas mais pobres, desde fins do século passado, a partir da adoção dos primeiros programas de transferência de renda e de políticas compensatórias no Brasil. Processo que pode estar crescendo na medida em que se ampliam os beneficiários de tais medidas. A recorrência tardia, mas correta, enquanto assistência humanitária, a essas políticas, - excluído aí o uso eleitoreiro que delas o atual governo passou a fazer – pode ter trazido para o mercado de consumo segmentos importantes dessas camadas populares e excluídas por completo, seja de voz e voto, ou de alguma opinião institucionalmente repercussiva, que fosse levada em conta pelos demais setores da sociedade, e, sobretudo, pelos governos.

É também interessante a observação de uma certa aquisição mínima de cidadania, na medida que pessoas , as mais carentes economicamente são tiradas da linha da pobreza absoluta para ao menos já poderem racionar, se isto é possível nestas condições, de barriga cheia.

Entretanto, a matéria da articulista me chamou mais atenção quando relaciona esse “avanço” de camadas excluídas conforme escreve: “ O fato de os dois fenômenos terem acontecido num período governado por um único partido, e não ter ocorrido até o momento – nem no período de crise – um forte refluxo das condições objetivas de consumo desses setores, pode indicar que a candidata governista entra no mercado eleitoral como depositária de um legado. O conservadorismo de classe média, no caso dos ascendentes no governo Lula, tende a favorecer a candidata – o status quo agora é o PT, ao contrário de 2002.”, sustenta.

Logo adiante, a jornalista caminha para algo que considero meio óbvio, se situarmos sua análise no campo da aquisição de cidadania, quando sugere que “num contexto de maior escolaridade e maior renda, portanto, imagina-se que mudem também os critérios de escolha do voto.

Ela encerra seu texto dizendo que “O dado concreto, no momento, é que esse eleitorado obrigará uma campanha eleitoral que agregue mais informações e argumentos eleitorais mais convincentes.”

Ora, escolado nas estratégias – ou na falta delas – das últimas campanhas eleitorais, em que o que ficou patente foi o desprezo pelo debate dos problemas nacionais e uma busca de retorno a um velho nacionalismo, disfarçado no lulismo em consolidação, ou no Pós-Estado Novo, como referem-se outros analistas sociais, Deus queira que a jornalista Maria Inês Nassif tenha razão em sua expectativa de ganho crítico, constante do que deixou passar na conclusão que fez. E isso para o bem da educação para a cidadania e para continuarmos apostando e lutando por um outro jeito de fazer política, com o qual alcancemos um país democraticamente mais justo e livre de ignorâncias e manipulações.



Um comentário:

Sadi Freire disse...

Não compreendo como tantas pessoas não se deram conta e agiram de uma maneira tão primitiva e agressiva. Acredito que em um ambiente estudantil, o mínimo que haveria de existir era a capacidade de raciocínio e o respeito a privacidade e os direitos individuais