*Chico Andrade
Virou um jargão comum falar de coisas como inclusão social e cidadania; pena que muitos assim agem apenas da boca pra fora ou para contemplar seus objetivos circunstanciais.
Hoje, antes da reunião deliberativa da Comissão do Trabalho na Câmara, fiquei meio estarrecido com o comportamento de certo deputado. Não que não tenha até me agradado aquela sua “progressista” postura, diante do que defendo e do assunto em debate: foi num encontro entre o Ministro das Comunicações, o presidente da empresa de Correios e Telégrafos e parlamentares da Comissão.
Lá pelas tantas, o plenário lotado de empregados dos Correios em greve, que vieram pressionar pela rejeição de dois Projetos de Leis, que segundo os grevistas,contrariam seus interesses e os da empresa, pede a palavra um parlamentar-empresário que já apoiou tudo quanto é governo que se constituiu desde a ditadura, cuja história é a própria expressão do atraso e do apego aos seus interesses agrários e do desprezo pelas causas sociais, saiu-se com a seguinte pérola: “gostaria de cumprimentá-lo, senhor ministro, pelo que vem fazendo com esta empresa, pois se fosse no governo passado, para quem tudo o mercado resolvia, com certeza, os Correios já teriam sido privatizados”. Virou socialista, ou não? Em seguida aplicou uma senhora reprimenda aos grevistas: “estou aqui para apoiar a reivindicação de vocês, mas quero alertar: não gostei da greve que vocês deflagraram hoje. Aliás, eu não gosto de greve”. Como se todos não soubessem que ele é empresário e que a greve pra ele é como a cruz pro diabo.
É que presenciei esse senhor há cerca de um ano e pouco, gabando-se de ter adquirido máquinas super poderosas e produtivas para substituir a mão-de-obra humana que empregava em seu laranjal, no interior paulista. Na oportunidade, escutei do deputado agora progressista, referindo-se aos parlamentares sindicalistas que atuam na Comissão do Trabalho, coisas do tipo: “vocês a cada dia impõem mais custos às empresas, são tantas e tão absurdas as reivindicações que vocês e seu povo fazem que não dá mais. Estou substituindo quase todos os empregados por máquinas. Com elas não tem esse negócio de descanso a mais, parafernálias de equipamentos, uniformes, horas extras e greves. E o desemprego é culpa de vocês.”
Não é que estejamos incorporando espíritos retardados que vagueiam por aí, como as vítimas da revolução industrial, que por estarem sendo substituídos pelas primeiras máquinas a vapor, decidiram tocar fogo nas fábricas. Não, eu entendo a importância da tecnologia, da informática e de todos os avanços que através da ciência os homens colocam a disposição da humanidade. O que não compreendo, é a urgência e a voracidade do capital e seus representantes que não medem investimentos quando se trata de mais ganhos e mais acumulação.
Ora, será razoável sob o ponto de vista humano, a pressa com que empresários, banqueiros, e toda a espécie do gênero age, adquirindo equipamentos de ultima geração, máquinas as mais sofisticadas, imprimindo métodos de trabalho extremamente competitivos, cobrando metas extenuantes e quase nunca atingíveis, espalhando uma competição desumana e alienante nas suas empresas, em troca do lucro como único fim?
É que a postura volúvel e camaleônica do referido empresário, hoje convertido em “revolucionário da modernidade” me fez regressar a tais elucubrações e cogitar se sua fingida atitude fazia algum sentido. Mas diante dos aplausos que recebeu vi que neste nosso mundo sem memória e sem cidadania tudo faz sentido. Principalmente o disfarce que traveste os camaleões e ignora a inteligência dos que não se permitem mais manipular.
Então, amigos, parece mesmo que não há outra saída para a democracia plural e de massa incluída que precisamos construir, que não investir de modo radical na cidadania. Até vencermos todos os últimos entraves alienatórios, para enfim vislumbrarmos a emancipação e a vida num mundo mais igualitário e livre de todas essas misérias.
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