segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Por que voto em Serra

Lá no inicio dos anos 1980, quando iniciava minha alienada participação na vida política e sindical, quase fui parar no paraíso pintado pelos petistas. E era muito mais fácil militar no PT, bastava ser “trabalhador” e, claro, não ter nenhum conhecimento da história, pois eles, os criadores desse partido de “santos”, também estavam destinados a escreverem a “verdadeira” história do Brasil; afinal tudo o que de bom aconteceu no Brasil, foi a partir deles...

Felizmente, e no grosso de minha alienação, acabei indo parar no meio dos comunistas do velho Partidão, o PCB, cujos dirigentes também e é bom que se diga, ainda muito pregavam de manipulação e de verdades incompletas. Mas algumas coisas neles me chamaram a atenção: sua trajetória de lutas pelos trabalhadores e pela cultura e o seu recente apego à democracia, além do incentivo ao novos militantes ao aprendizado da história como ela é, e do desafio de encarar o fazer político a partir da crítica, apesar das imensas dificuldades impostas, tanto pela história mal contada das experiências socialistas no mundo, quanto pelo preconceito plantado numa sociedade demasiado despolitizada.

Mas outra coisa logo me impressionou entre alguns velhos comunas, que era a defesa da liberdade como pressuposto para a democracia e para sonharmos com o socialismo e com um mundo livre da miséria e da opressão.

Hoje estamos a poucos dias de uma eleição presidencial, cuja campanha vem se dando da forma a mais alienada e despolitizada possível. E desde que o atual presidente da república escapou ileso das denúncias horrendas dos episódios do mensalão, protagonizadas pelo seu partido, graças à sua impressionante capacidade de dissimulação, as coisas no Brasil passaram a caminhar de acordo como muitos petistas assim o desejavam: a base de um generoso compartilhamento das gordas verbas de publicidade muita gente boa foi comprada na imprensa e nos meios intelectuais. E adeus ética, adeus respeito ao patrimônio público e à verdade, ora bolas, isso é discurso de oposição... Lula, esperto quanto ao conhecimento de nossa realidade educacional e das desigualdades sociais, logo tratou de encontrar, ampliando os programas sociais em curso, um meio para se sustentar no poder, depois de bem se segurar nas mãos fisiológicas do PMDB e de outros históricos desonestos da politica brasileira.

A partir disso, e de uma reconhecida capacidade de mitigar demandas e reivindicações populares, nascia o lulismo. Velhos estratos da população pobre, carente e sofrida, sempre relegados ao uso político eleitoral pela direita em épocas de eleição passaram a ter um novo dono e pai. E assim se constituía um fenômeno e um mito políticos para bem além do PT. Lula passou a se achar Deus, pois pra tudo ele tinha respostas e a tudo e a todos ele encarava, desde que se isolou da imprensa para negar e jurar por Deus, “que não sabia de nada” de todas as trapaças do mensalão e de outros vergonhosos escândalos em seu governo. E bem assessorado por Zé Dirceu e outros velhos estalinistas mandou ver pra cima dos adversários políticos, seja comprando com cargos partidos inteiros, seja interferindo em outros indiretamente por meio de seus métodos. E isso, numa sociedade com a história de pobreza e de maus tratos sociais e de elevado grau de preconceito e falta de atenção para estas camadas socioeconômicas, o velho ditado se consome: em terra de sego que tem um olho é rei... E ele assumiu o papel de soberano mesmo, afrontando tudo o que há de legalidade e as outras instituições republicanas.

Bom resta-nos agora a disputa entre a candidata que Lula inventou para continuar mandando e reinando, e o o governador José Serra, cuja história política, nada obstante sua limitada simpatia, o credencia de longe a retomar a construção da história do Brasil de onde ela parou antes dos petistas chegarem ao poder. Especialmente, para recuperarmos o sentido da liberdade, da construção de um país único e não relegado aos ódios tão próprios das pessoas e correntes políticas recalcadas e desapegadas do respeito ao bem público e à paz.

Voto em Serra, porque, principalmente, numa federação como é o caso brasileiro, é demasiado perigosa a perspectiva de uma mesma corrente política continuar no poder por tanto tempo, mesmo tendo contribuído para avançarmos socialmente em alguns quesitos como é sabido. Voto em Serra porque defendo a democracia na sua plenitude, como instrumento de mudança e como princípio para alcançarmos uma outra base civilizatória. Voto em Serra porque , como cidadão, luto por educação política e para tirarmos as pessoas simples e humildes da gangorra horrenda da manipulação e do uso político em benefício de projetos nem sempre claramente explicados. Voto em Serra porque me assusta o nível da amizade do “rei” Lula com chefes autoritários e ditadores mundo afora, como Hugo chaves e seus amigos vizinhos disfarçados de novos socialistas e Ahmadnejad, do Iram. Voto em Serra, sim, depois de ter votado três vezes em Lula, mas agora com o medo que sinto da sede insaciável de poder que ele e seus amigos têm demonstrado no governo.

Por fim, voto em Serra, por ainda acreditar em outro sistema de governo, a partir do qual não mais se permita o uso tão indisfarçado da máquina governamental e pela crença de que um dia, quando figuras ou líderes carismáticos dissimuladamente gulosos com o poder, possam ser contidos para o bem de uma nação inteira e pela paz social, nos marcos do estado democrático de direito. E esse sistema se chama parlamentarismo, ao qual meu partido, o PPS, - errante como os demais partidos de esquerda, de direita ou de centro, mas coinsciente de seu papel na história - e com todos os problemas que enfrenta ainda defende.
Voto em Serra, ainda e, sobretudo, pela liberdade e pela democracia, para podermos continuar sim a fazer nosso país avançar incluindo cidadãos e não um exército de dependentes apenas, pois haveremos de separar políticas solidárias e de transferência de renda, tão necessárias para o combate das desigualdades e da pobreza, de políticas meramente assistencialistas e, portanto, devedoras de uma perspectiva formadora de cidadãos autônomos.

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