Muitas pesquisas e análises têm sido feitas em busca de se identificar as causas da baixíssima qualidade política em nossa cidade, algo que se confirma pelos recorrentes episódios de desvios de conduta, corrupção, traição de compromissos eleitorais, e que se agravou e culminou com a crise de fins de 2009, a partir da qual tivemos um governador preso e afastado e cenas debochadas de deputados distritais vendidos recebendo dinheiro vivo, oriundo do superfaturamento de obras e serviços prestados ao governo.
Explicações diversas têm sido dadas por cientistas sociais e pela própria experiência dos últimos pleitos eleitorais, nos quais tem prevalecido a vitória ou de candidatos super poderosos economicamente, ou oriundos de grupos corporativos (policiais, professores, bancários, entre outros), ou dos que indiretamente já vendem sua pretensa condição de liderança à outras figuras interessadas em usá-las acriticamente a favor de seus projetos, sem o mínimo apego à ética pública ou aos reais problemas de Brasília e de suas cidades-satélites.
É claro que os amigos logo podem dizer: Mas isso não é um problema apenas de Brasília... Sim, isso em parte pode ser verdade, mas os dados eleitorais e a prática majoritária dos políticos que temos elegido e, notadamente, para a Câmara Legislativa, comprovam que a imensa maioria dos que se elegem não teriam as mínimas condições de representar a cidadania se estivessem em uma cidade ou mesmo em um país com um pouquinho mais de consciência crítica e de educação política. É o empresário que usa do seu próprio bolso ou do trabalho e exploração de seus empregados para se autopromover; são sindicalistas ou representantes corporativos que se utilizam de meios nem sempre lícitos ou autorizados por seus representados para também despontarem publicamente; e, claro, aqueles já vindos de mandatos passados, por ostentarem o recall de eleições anteriores e, pior ainda, pela máquina formada por um sem-número de cabos eleitorais pagos com dinheiro público para diuturnamente fazerem suas campanhas, sem a mais mínima decência, se imaginarmos a dimensão do que representa um cargo público de representação popular.
Aí, quando nos deparamos com o saldo de ilegalidades e de contravenções político-eleitorais cometidas por “nossos” representantes, fica-se a escutar coisas do tipo, “ não tenho vontade de votar mais em ninguém, ou de que todos são iguais, e pior, de que a política tal qual os políticos são a mesma coisa ruim”.
Mas, convenhamos, será isso verdade? Ora uma cidade que, caçada de seu poder de voto desde sua criação há meio século e a meio da ditadura militar, também há menos de vinte anos começou a votar para governador, num cenário de absoluta falta de experiência política-republicana, ou seja, naquele momento, em que o coronel do cerrado Joaquim Roriz, iniciava a formação de seu curral eleitoral, era quase impossível que não fosse assim. Agora, é interessante notar que, não obstante a constatação dessa falta de hábito com o voto e com a prática da cidadania, nas duas primeiras eleições, os deputados distritais eleitos, bem assim os nossos primeiros senadores e até mesmo os deputados federais, não foram nem de longe parecidos com essa turma que tem nos sobrado, principalmente nos últimos pleitos.
Parece que, dada a banalização da política e da oportunidade que ela oferece à pessoas sem caráter e desprovidas de qualquer respeito com as pessoas, e também a um notável desinteresse na vida política como ela de fato deveria ser, com um eleitorado majoritariamente já rapidamente viciado nos favores e no assistencialismo aqui plantado e vingado, pessoas com perfil fora dessas características são, a priori, cartas fora do baralho.
Pois bem, estamos agora a ingressar numa campanha eleitoral que, em tese, teria tudo para, de verdade, mudar esse triste panorama político de cidade típica dos cenários da novela “O Bem Amado”, aonde o que vale, ou é o poder do dinheiro e, geralmente ilícito, ou o descaramento e a cara-de-pau de políticos desonestos e mentirosos ou, o saldo de alguns poucos que vão sobrar, não por suas virtudes, mas pela máquina eleitoral que conseguiram montar, e Deus sabe a que custo, envolvidos também em diversos esquemas e denúncias, porém, por sua astúcia e malandragem conseguiram se safar.
Pois é, como dissemos, teria ou ainda têm tudo para ser diferente, mas as pessoas, que nos primeiros momentos da crise do mensalão e dos mensaleiros da Câmara Legislativa mostraram-se tão indignados e “revoltados”, como estão agindo agora? Ora, segundo as pesquisas de intenção de voto, o velho e astucioso coronel, com a permissão e o bom olhar da justiça, trama sua volta triunfal, acompanhado por tudo que se já acumulou de oportunistas políticos na cidade. Nas cidades-satélites, o que se vê são arranjos mal disfarçados e a dinheirama saindo das meias e das malas nas montagens de comitês e na compra de cabos eleitorais desonestos, sempre ávidos por estas oportunidades.
Resta, amigos e amigas, a crença e a esperança que vimos nutrindo, em um movimento crítico que quer recuperar seu papel democrático e voltar a fazer de Brasília uma cidade com outra história política e outras possibilidades sociais. E, creiam, existe esta possibilidade, mas ela somente emplacará se essa esperança se espelhar e for capaz de ser valente e vencer a avalanche de safadeza e de pouca vergonha que já campeia quase todo o Distrito Federal, de onde saem os compradores de votos e os aliciadores de consciências deformadas.
Para vencermos este deplorável cenário de políticos desonestos e despreparados e evitarmos cenas futuras de governadores sendo presos e afastados, de senadores renunciando ao cargo para se livrarem da cassação em nossa cidade, e da ameaça de intervenção, somente uma arrancada envolvente plural e, quem sabe, suprapartidária, em torno do regresso da cidadania política plena e da decência com a coisa pública. Ainda é tempo desse engajamento...
Um comentário:
Gostei, Chico, da idéia de se pensar em um movimento suprapartidário, só não sei se isso ainda é possível, posto o avançado dos acontecimentos...
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