terça-feira, 30 de março de 2010

Precisa-se de governador: urgente, ou...


E conforme script previsto, ante à grave crise instalada com a derrocada de Arruda e seus assessores, os problemas da cidade se avolumam a cada dia. A interinidade no governo exercida pelo deputado Wilson Lima, é, também, tal qual se temia, outra temeridade digna de um breve fim.

Sob o ponto de vista estritamente republicano, a balbúrdia gerada pelo mensalão local é tão perigosa que quanto mais demora sua solução mais prejuízos poderá acarretar ao Estado e a população do Distrito Federal, enquanto mantenedora fiscal do governo. E a prova do que estamos tentando alertar são as atitudes tomadas pelo governador interino diante das pressões de diversas categorias, que, alheias àquilo que chamamos de interesse público – mas antenadas aos interesses corporativos –, valem-se legitimamente do poder de pressão e da oportunidade que se lhes apareceu, na conjuntura de governo fraco ou desgoverno, para verem atendidas suas reivindicações, justas ou não.

Em menos de um mês, tivemos greves dos funcionários do Detran, de professores, do metrô e de outros segmentos do funcionalismo público local, movimentos que dada a situação de fragilidade governamental deixaram ainda mais permeável a referida estrutura estatal, sob as possibilidades de solução de conflitos. É que, como sabemos, Brasília detém um histórico de relativa organização sindical estatal-corporativa.

Recentemente, tivemos o chamado “pacote de bondades”, algo que, a rigor, em sua maioria, parece apenas cumprimento de acordos passados. Contudo, vejam que, de fato, apresentou-se uma excelente oportunidade para se pressionar e tentar conseguir mais benefícios, independentemente de discussões mais analisadas, se tivéssemos em um governo real. Já em outra ponta, o sindicato dos trabalhadores do metrô engatilhou uma forte greve, a despeito de saberem do momento politicamente instável em que vive o governo local, ainda que, a nosso ver, absolutamente justa, no que se refere aos salários atualmente pagos a sua categoria.

Por tudo isso e mais, nos loteamentos ou condomínios irregulares, onde à base da ameaça causada por uma Ação Civil Pública, tinha-se ao menos momentaneamente, estancado novas construções não-autorizadas e comercialização de lotes, enquanto se desenvolviam ações para dar andamento à luta pela legalização, tudo voltou como antes. Em locais como Arniqueiras, por exemplo, há chácaras nas quais estão construindo por atacado e a toque de caixa, sem nunuma ação fiscalizadora do poder público. Notícias dão conta também de que o povo do transporte-pirata tenta a qualquer custo voltar a funcionar. Isso, é claro, sem se saber quais critérios são utilizados para dar prosseguimento, por exemplo, a algumas obras. Há suspeitas de que um pressuposto seja o da afinidade de interesses.

Já nas construções em andamento e “regulamentadas” pelo PDOT - que deveria mesmo ser revisto - aprovado na nossa Câmara Legislativa em meio a um sem-número de denúncias de compra de voto, observam-se, por exemplo, no Guará, obras subindo para mais de 20 andares. São verdadeiras Torres de Babel, se erguendo, e Deus sabe com que tipo de concessão do Estado, se é que tem, e nem se estão sendo fiscalizadas por alguém. Aliás, o exemplo do Guará é simbolo dos desmandos do governo passado e de seus conluios com boa parte dos distritais e com as construtoras, sempre tão ávidas por lucro e pouco respeitosas com a lei. Meu Deus!

É por essas e outras que, apesar de me colocar ao lado dos que são contrários à intervenção em nossa capital, convenhamos, é muito, mas muito mesmo difícil fazer-se tal defesa, especialmente diante da série de transgressões que os espertos de sempre comandam pela cidade, devido a acefalia de governo que vivemos.

Portanto, amigos e amigas, nem mesmo a nossa mais firme convicção de cidadãos democratas e de defensores da autonomia política do DF pode segurar e contrapor os justos argumentos que os defensores da intervenção têm, diante do caos em que nos encontramos, se com a mais célere brevidade não instituirmos um governo, sério, não contaminado pelo mensalão em nenhum grau, para realmente pôr ordem na casa.

Portanto, a Câmara Legislativa, apesar da pouca legitimidade da maioria de seus integrantes, precisa se superar e eleger um governador que reúna representatividade e legitimidade e vida pública ilibada, algo que leva em conta ter capacidade política e moral para dialogar apartidariamente com os diversos setores da sociedade civil organizada e com o conjunto da população do DF e já, pois se não estancarmos em tempo, as sangrias dessa indesejável situação de desgoverno, aí, querendo nós ou não, a intervenção será o único remédio.

3 comentários:

Reinaldo Silva disse...

Tem que haver a intervenção sim, Chico, do contrário nunca vamos saber por completo o que aconteceu...

Marcos Araujo disse...

Também acho que uma solução deve surgir e já, para o caos não ficar irreparável.

Afrânio Brandão disse...

A preocupação com a não intervenção deriva, em sua grande maioria, de pessoas que tem a perder com o grande esquema que foi montado em Brasília. Dizer que haveria perda da autonomia política é uma balela, o instrumento em questão é previsto na Constituição Brasileira, portanto legítimo.