quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Por um debate franco sobre esquerda e direita no Brasil

Prezados amigos,


Hoje o jornal da Câmara publicou matéria em caderno de debates, intitulada "Uma CPI do ódio de classe", assinada pelo deputado federal dr. Rosinha, do PT do Paraná, na qual ele faz menção indevida e desrespeitosa ao ideário político do PPS, partido ao qual sou filiado, desde os tempos do velho PCB.

Reproduzo a seguir, a referência adjetivante feita pelo nobre deputado dr. Rosinha ao PPS, para que os amigos possam se situar na leitura do texto provocativo, que encaminhei no sentido de estabelecermos um debate plural e aprofundado sobre o que é ser de esquerda hoje em nosso país, o que, a meu ver, muito contribuiria para alcançarmos um grau mais civilizado e tolerante no trato das questões sociais em nosso país. Vejam  abaixo a parte do texto do deputado:


  • "Sem discurso diante do sucesso do governo Lula, os três principais partidos de direita hoje no Brasil, DEM, PSDB e PPS, estão desnorteados, à procura de alguma tábua de salvação para se agarrar. Assim como em outros episódios, tentam fazer da CPI um palanque eletrônico, com vistas às eleições de 2010." Grifo meu.

Agora compartilho com os amigos e amigas o teor da proposta de debate que encaminhei por e-mail ao ilustre deputado dr. Rosinha.


 Prezado deputado Dr. Rosinha,


Antecipando meu respeito ao conjunto de suas lutas e obra, não apenas como parlamentar, mas também como representante e conselheiro de servidores  e órgãos públicos de seu estado,  venho a propósito da matéria publicada no jornal da Câmara desta data, com o título "Uma CPI do ódio de classe", por Vossa Excelência, e como membro dirigente do Partido Popular Socialista, ex-dirigente sindical em Brasília,  cidadão democrata e republicano e, acredite, socialista - se ser socialista é lutar contra a pobreza, as desigualdades sociais, os preconceitos de classe e de todos os tipos,  e contra todas as formas de segregação, mas em minha visão, também contra todos os meios de manipulação não-educativos e autoritários, velados ou não -  convidá-lo a um debate plural, democrático, atualizado e desapegado também de quaisquer paixões e rancores sobre o que afinal resta, ou sobre quais partidos no nosso país são de esquerda, quais os de direita, de centro, ou revolucionários, se assim lhe convier.

Ora, Excelência, ontem mesmo, eu havia publicado uma pequena nota em meu blog - blogdochico.com -, repercutindo pesquisa sobre se se deveria ou não instalar a mencionada CPMI, cujo resultado apontou que mais de 97 por cento dos participantes da enquete desejavam sim ver o debate proposto ocorrer. Na mesma nota, tentei deixar um pouco de minha visão política, que é reflexo do que aprendi com os erros e acertos de meu partido, desde os tempos de PCB, em quase trinta anos de militância em prol das lutas populares, sindicais e pela justiça social em minha cidade e país, salientando que, "afora os exageros manipulatórios de seus principais protagonistas e do viés velado mas de forte pretensão revolucionária(?) embutido em suas ações, defendemos que o debate ocorra a partir de uma visão republicana não-ideologizada, de nenhuma das partes envolvidas (MST x ruralistas), na perspectiva final de zelar pelo bom e saudável uso dos recursos públicos e de, por outro lado, buscar-se aprimorar as políticas públicas, sem perder de vista o caráter e princípios constitucionais de superação da pobreza e das desigualdades sociais no Brasil".

Então penso, deputado Dr. Rosinha, que nada obstante nos encontrarmos em campos opostos, o seu partido hoje é governo - um governo que, a despeito de muitas ações afirmativas adotadas para o amparo e assistência aos mais pobres e excluídos em nosso injusto país, ainda assim não se pode dizer exatamente se ele é de esquerda, de centro ou sabe-se lá de que cor, haja vista o amplo leque formado em sua chamada base de sustentação - enquanto eu e meu partido, que nasceu justamente do saldo das mais renidas lutas e experiências de esquerda no Brasil, do PCB de 1922, como o senhor deve ter conhecimento, encontramo-nos, por dever democrático e republicano na oposição ao governo do presidente Lula. E reconheço que hoje, de fato, e foi esse o caminho que escolhemos, nosso partido não considera alguns comportamentos e atitudes, como por exemplo, a destruição de laboratórios instalados para se buscar o progresso e a melhoria da oferta de alimentos em nosso país, atos midiáticos e destrutivos como a recente destruição dos laranjais em fazenda no interior paulista - ainda que tal fazenda fosse área passível de ser destinada à Reforma Agrária -, prejuízos como os causados há alguns anos aqui no prédio da Câmara, com a brutal e injustificada invasão do MST, enfim, no nosso modo de ver, isso nada tem a ver com os princípios que nortearam um dia o pensamento de esquerda pelos iluministas, e depois pelos futuros democratas, libertários e socialistas de várias partes do mundo.

Quero crer, por outro lado, deputado Rosinha, que quem opta pela atuação no parlamento, acredita, pelo menos como estratégia, no seu papel e importância para a democracia política e para os avanços que buscamos no campo social. 

A propósito ainda da inconsistente,  inverídica e descuidada afirmação de Vossa Excelência, quando menciona "os três principais partidos de direita hoje no Brasil, DEM, PSDB e PPS", haja vista que, nos estatutos do PPS, e ao que sei nem dos do PSDB, não consta nenhuma menção à defesa do capital, do estado mínimo, ou de outros princípios que deveriam caracterizar uma organização de direita e ou liberal, perguntaria ao senhor, por exemplo: partidos que estão na base de seu governo como o PR, que se originou do PL, ou o PP, que veio da Arena, que teve como expressão maior em seus quadros, o senhor Delfim Neto, ou se quiser aprofundar, o senhor Paulo Maluf,  são partidos de esquerda? Afinal, deputado Dr. Rosinha, como parlamentar e democrata que é, num país que avança sim há anos no aperfeiçoamento de suas instituições, mas que muito ainda precisa fazer para se tornar um país justo e mais decente para com a imensa maioria de seu povo, e principalmente com aqueles que precisam trabalhar na terra e não  lhes é permitido, o que é ser de esquerda para o senhor?

Tenho quase a certeza que o senhor não vai me dizer que ser de esquerda no Brasil é, por exemplo, seguir cegamente a cartilha de seu partido, que no poder, fez alianças com toda a espécie da histórica classe  dominante brasileira (banqueiros, ruralistas sim, mega-empresários, sem contar e não vamos entrar no mérito, das centenas de denúncias de malfeitos cometidos ou encabeçados por gente ou do PT ou dos seus mais próximos aliados, nos últimos seis anos. Uma sequência de transgressões e de abusos, que creio, o senhor não os vai ignorar, e que somente foram esquecidos ou deixados para trás, porque vivemos exatamente num país sem memória, de baixíssima educação e, ainda vítima de muitas manipulações, inclusive praticadas pelos que hoje ocupam o poder central.

Paro por aqui, mas muito gostaria de continuar este pedagógico debate com Vossa Excelência, sobre esquerda e direita no Brasil, pelo menos... Pena que não sou parlamentar, para também utilizar o espaço do jornal da Câmara.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tá encarando o deputado, meu caro Chico. Legal, tá mesmo difícil se saber quem ou qual partido no Brasil é de esquerda, mas acho que isso já não é o mais importante.

Se tiver civilidade e for democrata convicto, já estamos no avanço, não é mesmo?

Roberto Alves disse...

Também tô afim de discutir esse tema, mas, acho que vai ser bom para a democracia o debate da CPI do MST...