*Chico Andrade
Justiça seja feita, o conjunto de obras iniciado pelo atual governo visando desafogar o trânsito em toda a cidade é absolutamente importante e necessário. A cidade parece ter sido retalhada e, ainda bem que Deus deu uma mãozinha legal, ao mandar as chuvas mais cedo, para apagar um pouco da poeira que tava pegando geral.
É, de fato, animador, a despeito do incômodo dos engarrafamentos, se imaginar que a EPTG, em breve terá pistas laterais (a chamada linha verde), bem como a EPIA, a duplicação da DF-079, enfim, todo o conjunto de obras em andamento, já que o planejamento viário e urbanístico de Brasília e suas cidades-satélites parece ter sido no mínimo, atropelado pelo crescimento acelerado e desordenado que aqui se dá.
Mas é claro que a culpa não é apenas da insuficiência urbana e programática da capital. Os problemas com os quais iniciamos a nos defrontar, representam apenas um anúncio do que poderá ser nossa cidade daqui a alguns anos, caso não sejam adotadas uma série de medidas estruturantes e reorientadoras dos nossos hábitos, tanto na área de transportes, das vias urbanas, como e principalmente no sentido de se ampliar e melhorar a oferta de serviços públicos de saúde, de educação e de geração de emprego e renda.
Entretanto, para que essas mudanças ocorram, não basta apenas as boas iniciativas deste ou daquele governante, é preciso que a população, e em especial os setores mais abastados economicamente, reflitam com profundidade sobre seu modo de vida e seu atual padrão de consumo. Andar de carro próprio pode ser bem mais cômodo, principalmente aqui em Brasília, projetada como parece que foi, para isso. Todavia, se continuarmos nesse ritmo maluco de aumento dos carros particulares – dados indicam que a cada 3 moradores 2 têm carro próprio -, de nada vão adiantar as boas obras que este governo agora implementa. É questão de tempo e tudo voltará ao caos.
Então, amigos, ou discutimos e já a atual filosofia de vida urbana e dos nossos hábitos tão contaminados pelo egoísmo e por uma visível nova alienação – a do consumo -, ou logo logo, estaremos pedindo a Deus para encontrarmos meio de deixar Brasília. Aliás, para quem bem observa o que acontece em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e outras metrópoles, pode entender sem mais esforço do que estamos falando.
Portanto, ainda é tempo de cobrar e participar, para evitarmos os alagamentos costumeiros quando as chuvas vêm, os quilômetros e mais quilômetros de engarrafamentos num trânsito que, a bem da verdade, não era para ser assim, e para não esquecer, de pensarmos em políticas públicas que desconcentrem a renda e interrompam esse cruel quadro de aceitação da pobreza e de convivência pacífica com as desigualdades sociais em nosso país.
A vida nas cidades num futuro próximo só será suportável se fizermos uma verdadeira revolução nos nossos modos de vida. E essa revolução não demanda o surgimento de nenhum novo herói para comandá-la como as revoluções do passado. Depende de nossa atitude e nossa consciência cívica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário