*Chico Andrade
Neste fim-de-semana que passou estive assistindo aos jogos de futebol de campeonato mirim e infanto-juvenil promovido, eu acho, pelo SESC de Taguatinga Sul, pois é lá que estão sendo disputadas as partidas. É que meu filho mais novo, o Caio, participa do torneio, pelo time de sua Escola, LaSalle de Aguas Claras.
Desde outras oportunidades que venho refletindo sobre o papel do esporte na educação de adolescentes e jovens, principalmente. Mas, nesses dois últimos eventos, tive a oportunidade de conversar com outros pais, professores, treinadores e pessoas ligadas ao esporte. E no desenrolar de cada partida, ficava observando a alegria, a ansiedade por participar, e, em muitos casos, a esperança se substantivando nos olhos de cada garoto.
A convicção que venho firmando sobre a importância do esporte na vida dessa garotada nasce do comportamento de meu próprio filho. Escalado como titular de seu time, ele mal consegue dormir direito, me pressionando para a hora de acordar, para chegar com antecedência de uma hora no local dos jogos, e mobilizando toda a família para assisti-lo. Sua fixação pelo compromisso dos jogos é tamanha que, como a condição que havia estabelecido para participar do futebol na escola era tirar boas notas, ele vem, particularmente nos últimos dois anos, melhorando visivelmente seu rendimento no conjunto das matérias, ao tempo em que sua conduta, - antes arredio e de muita conversa em sala - agora, segundo a maioria dos professores, é solidário e muito mais respeitante às regras, além de estar se tornando um líder entre a turma.
E no sábado (05), enquanto aguardava o jogo do Caio, pus-me a conversar com as pessoas, mas uma em especial me chamou a atenção. Foi o caso do jovem Flávio, de menos de 20 anos. Dos dezesseis para os dezessete anos ele já jogava nas categorias de base do Gama, quando perdeu a mãe, que era quem mais o incentivava, o que o fez mudar o rumo de sua vida, deixando para trás a alegria de jogar e a esperança de um dia se tornar um grande jogador, para “caindo a ficha” entrar no mundo real. Daí foi trabalhar para sobreviver, mas, com uma dedicação digna dos lutadores, se prepara para fazer concurso e, segundo diz, logo logo ingressar na Faculdade e fazer um curso de Direito, seu novo sonho.
Mas o aspecto que positivamente me fez olhar mais para a história do garoto Flávio, foi que, apesar do infortúnio de perder sua mãe – os pais eram separados e passou a morar com o pai -, e de ter que deixar de lado o sonho alvissareiro de jogar futebol, ele estava ali, feliz e incentivando sua prima, que também disputa o campeonato e segundo nosso personagem é uma craque de bola... Tive de me esforçar para não demonstrar-lhe um sentimento que nada tinha a ver com seu estado de ânimo. Sua força de vontade e sua pertinência de lutar por uma vida melhor, apesar das circunstâncias não tão promissoras, me fizeram pensar com mais rigor sobre o que mais importa na vida das pessoas comuns, de gente não corrompida pelo espírito vazio e consumista que tanto vemos por aí.
Já no feriado de segunda-feira ( 7 de setembro), conversei com uma outra pessoa igualmente interessante, o Sr. Renato, treinador e proprietário da Escolinha de futebol do Fluminense, que também tem um filho na mesma escola do meu filho Caio. Sem que perguntasse, Renato me falou como desenvolve seu trabalho e de como gosta do que faz, salientando suas palestras aos garotos, nas quais orienta para a importância do rendimento escolar, de comportamentos, drogas, violências e até de iniciação sexual.
Ora, num país e, no caso, numa cidade, repleta de diferenças sociais como a que vivemos, de desigualdade de oportunidades, de preconceitos e tantos outros atrasos, pude perceber naquelas conversas e observando a mistura de culturas e de condições econômicas nos garotos dos diversos times em disputa, uma esperançosa possibilidade de inclusão e de educação para uma, quem sabe, saudável cidadania no futuro. No campo, os garotos brigam, se xingam até, mas passado o jogo, todos se confraternizavam, mesmo os derrotados.
E voltando para casa ontem (08), ouvi de Juca Kifouri, em seu programa de rádio, que um deputado estadual de São Paulo, fizera aprovar na Assembléia Legislativa, uma Lei obrigando os clubes de futebol a proverem o estudo até o ensino médio, para jovens de suas bases até completarem 18 anos. Claro que os cartolas e exploradores já estão bombardeando o projeto, que seguirá para a sanção do governador paulista. Fato é, que, independente do que vier, só os gestos, as atitudes que vimos surgir ultimamente no sentido de fazer do esporte não apenas objeto de exploração, mas de reconhecimento de talentos e de respeito a seres humanos iniciantes na sua vida escolar, profissional e também cívica, isso já é bastante estimulante para os que se preocupam com a construção de uma outra sociedade e de um país onde a ética e outros valores como a verdade sejam definitivamente incorporados no rol de seu aprendizado.
Cabe aos governos, de todas as instâncias, serem menos demagógicos e colocarem em suas prioridades, a adoção de políticas públicas que incentivem e protejam essas crianças, adolescentes e jovens, sobretudo, oferecendo-lhes a oportunidade de, junto à formação escolar, praticarem esportes, sejam lá quais forem as suas opções, e não mais permitirem as vergonhosas explorações que hoje por aí se vêem, por parte de clubes e empresários inescrupulosos.
Resta, também, ao conjunto da chamada sociedade organizada, fazer a sua parte, escolhendo políticos mais honestos e mais comprometidos com uma educação ampla, com a implantação da Escola em tempo integral e tendo em mente o esporte como elemento de inclusão social e formacional.
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