*Chico Andrade
Uma das vantagens de se ir envelhecendo (se é que se pode assim dizer), é o ganho de certa grau de tolerância e mais respeito às diferenças. Ainda que discernimento não seja mercadoria comum a qualquer mortal, trazendo o assunto ao nosso mundo contemporâneo e desproporcionalmente consumista.
Assim é que, respeitosamente, vejo as coisas escritas pelo ex-cineasta e colunista Arnaldo Jabor. Neste momento refiro-me ao artigo publicado hoje no jornal O Estado de São Paulo, com o título " Lula é irrevogável", no qual tece acertadas críticas ao silêncio autoconcebido da intelectualidade brasileira, ante a todos os acontecimentos ético-escandalosos da Era Lula.
Que ele exagera, todos sabemos. Se ele algum dia foi socialista ou marxista, também não sei; creio que não e desconfio dos que assim se definem. Mas que vale a pena ler suas colunas ou escutá-lo na Rádio CBN, isso vale, quando menos pelo viés humorístico, diante da angústia anestésica que nos assola, e algo com o que o petismo pragmático de hoje não atura.
Mas vamos lá, amigos a algumas de suas tiradas na coluna de hoje:
"Lula têm várias qualidades, mas está usando só os seus defeitos: autoritarismo de Ibope, "lua de mel consigo mesmo", confusão conceitual no ensopadinho ideológico do "lulismo". (discursos populistas e práticas oportunistas), ausência de um plano concreto, além do virtual e midiático PAC, alianças com os mais sujos pra "governar" e ficando incapaz de fazê-lo pelas mesmas alianças que agora o manietam".
Mais adiante ele diz: "Lula é um dogma. Diante dele, abole-se o sentido crítico".
Nesta frase, particularmente, inseri-se com rigor, uma boa contribuição ao estudo filosófico da democracia como meio de transformação e de busca de vencimento das alienações. Pois, como poderemos continuar a trilhar a estrada esperançosa das mudanças - e aí está uma contradição do discurso de Jabor, posto desconsiderar as utopias e menosprezar a esperança - sem nos preocupar com a crítica e sem respeito à verdade histórica?
Não há mesmo como discordar do que fala Jabor e outros poucos intelectuais independentes hoje em nosso país, quando classificam os dias de 2003 para cá de Era Lula, ou o mesmo de a “Era” do cinismo e do populismo político extremados. Não que, por sua história, forjada que foi dentre as camadas sociais mais vulneráveis e sofridas no espectro sociopolítico de nosso vasto e desigual Brasil, ele Lula não pudesse originar e dar nome mesmo a um outro momento de nossa malcontada história. Isso, Lula ou qualquer outro líder legítimo como o é bem poderia fazer. O que não deveria, a meu ver, é contribuir para a cultura do esquecimento, para a descontinuidade da política como elemento de libertação e para um retorno ao tempo dos mitos. Coisas, que retratam o grau de limitação cultural de um povo, é verdade, mas definitivamente não educam ninguém para a cidadania que o país precisa construir, para de fato se tornar grande.
De minha parte, a despeito de considerá-lo exagerado nas críticas e pouco respeitoso com as crenças e esperanças das pessoas comuns ou não, vou continuar lendo suas colunas, para aprender com seus acertos e, quem sabe, me desfazer de tantos defeitos que reconhecidamente ainda carrego.
Nenhum comentário:
Postar um comentário