sexta-feira, 16 de abril de 2010

Uma eleição sob suspeita e seis candidatos




Está prevista para amanhã (17), a eleição indireta para a vaga de governador-tampão, pleito em que concorrem seis candidatos. São eles: Agnaldo de Jesus(PRB), Antônio Ibañez (PT), Luiz Filipe Ribeiro Coelho(PTB), Messias de Souza (PcdoB), Rogério Rosso (PMDB) e Wilson Lima (PR), sendo que os dois últimos, conforme se conjectura, não passam de prepostos do governador cassado José Roberto Arruda e do criador da criatura, o coronel Roriz, que assim poderia voltar ao poder local antecipadamente. Que os Deuses da justiça nos ajudem!

Isso se uma ação civil pública impetrada pelo MPDFT questionando os critérios para registro dos candidatos não for acatada. Há ainda o risco de a eleição não se realizar em função de ação popular protocolada no Supremo pelo advogado George Peixoto Lima, questionando também as regras do processo eleitoral.

É realmente complicada esta eleição, que já padece de legitimidade, em face dos vícios em que está inserida, com deputados suspeitíssimos participando do processo, e outros - e são muitos -, cuja história os liga diretamente aos autores da tragédia política que vivemos e seus malfeitos.

O mais grave é que a cidade que completa 50 anos no próximo dia 21, numa festa de brilho mais que ofuscado, pelos históricos desmandos e escândalos políticos de seus mandatários e representantes, vê-se dia após dia em situação de real alheamento do mando e poder, com aventureiros e espertos retomando ações de invasões, construções irregulares e toda a sorte de ilegalidades. É o contraste entre a beleza reconhecida de sua arquitetura arrojada, suas desigualdades sociais profundas e o desrespeito e o cinismo de uma elite política perniciosa.

Será que conseguiremos limpar essas manchas e retomar o caminho cívico para o qual Brasília foi idealizada por seus criadores? Isso somente a consciência da maioria de seus moradores poderá determinar, reexaminando comportamentos de subalternidade, de fisiologia e de desapego aos mínimos padrões éticos e morais. E isso só será possível com mudanças radicais, a começar por um olhar novo e compromissado com a cidadania e com a decência.



O que devemos comemorar nos 50 anos de Brasília



Em primeiro lugar, a oportunidade que a cidade, a partir de sua idealização representou para um mais equânime desenvolvimento econômico e cultural do país e para o conjunto dos brasileiros, a despeito do imenso muro de desigualdades que separa ricos e pobres em nosso país.

Em segundo, o que essa ousadia tem proporcionado em termos de uma cidade eclética, urbanisticamente revolucionária e sociologicamente instigante, do ponto de vista dos desafios colocados para a definitiva formação cultural de nosso povo, posto que aqui, neste espaço sonhado por Dom Bosco, nos deparamos com os mais diversos trações, costumes e tradições das gentes que enraizaram nossa perspectiva formacional de cidadãos em torno de uma nação de múltiplas origens étnicas e culturais.

O melhor de tudo isso, é exatamente a possibilidade dialética de construirmos as bases de uma cidadania multiétnica e respeitosa de suas diferenças, e que faça desse reconhecimento um caminho complacente e generoso para a superação dos nossos graves desníveis sócio educacionais, dos preconceitos e ignorâncias crônicos que herdamos, na perspectiva de alcançarmos no mais breve prazo um patamar mais civilizado e menos desigual para nosso povo.

Brasília têm sim essas qualidades, porque ungida do suor de uma brava e esperançosa gente, cresceu, nada obstante, subordinada aos caprichos de desmandos e do desrespeito com seus criadores.

Agora, nos seus 50 anos, depois de ter um governador preso e cassado, - algo que pode nos redimir - a população dá sinais concretos de profunda insatisfação com a maioria dos que foram eleitos no pleito passado para os representar na Câmara Legislativa. Os atos de negociação de mandatos, de participação direta ou não nos episódios de corrupção e desvio de dinheiro público e de traição mesmo com os eleitores, restam como desilusão generalizada, ao ponto de se fazerem campanhas pelo fechamento da Casa que, ao contrário, deveria ser a instância privilegiada para o debate e encaminhamento das soluções dos nossos diversos problemas.

E neste aniversário da cidade agora inchada, ou recuperamos na ação política o sentido pedagógico histórico que lhe foi conferido, ou sucumbiremos todos como democratas e cidadãos, perdendo o jogo para os parasitas e aproveitadores. Se, portanto, ainda acreditamos no fazer político como instrumento de mudanças e como afirmação de nossos deveres cívicos é a hora exata do debate da política como educação para uma cidade cidadã.

Brasília não pode mais ser confundida com uma claudicante ralé política. Mas somos nós que vamos mudar essa história!



Nenhum comentário: