Foto: Iano Andrade/CB/D.A Press
“Certamente estamos na mesma categoria das bestas; toda ação da vida animal diz respeito a buscar o prazer e evitar a dor”.
(Santo Agostinho, sec.V)
Tentando encontrar algo que me distanciasse da tristeza e decepção em que me encontro, diante desta que pra mim é uma das piores tragédias do nosso tempo, a corrupção e seus patronos, achei esta eloquente frase de Santo Agostinho, homem que se tornou bispo da igreja católica em Roma e morreu no norte da áfrica, no ano de 420, depois de se tornar um influente pensador teológico e referenciar gerações por toda a idade média com sua filosofia.
E se quisermos pesquisar na literatura encontraremos farta referência a este que parece ser um dos mais terríveis e desvairantes males que perpassam a história dos homens em sua trajetória de civilização. A corrupção contamina a alma, creio que alguém já o disse; mas acrescento, “e subordina as pessoas à mentira e à traição”.
Mas há outras frases que se sugerem diante de tamanho caos em que Arruda e seus “ingênuos” súditos colocaram nossa cidade; como estamos a falar de política, imagino que bem cabe uma outra boa e não-tão velha expressão, muito conhecida pelos seguidores do marxismo, sobretudo do chamado marxismo-leninismo: “Que fazer”?
Quero salientar que meu estudo teológico/filosófico é incipiente, se comparado aos bons passos que dei no caminho do aprendizado da dialética e do materialismo-científico, em busca de explicações ou de argumentos que me convencessem daquilo que me era oferecido como estrada para um mundo ideal, nos idos de minha mais resoluta militância político-ideológica. Ora, talvez, já neste ponto, interagisse meio sem querer com o espírito de Santo Agostinho, pela sua “Cidade de Deus”. Será?
E no curso dos episódios que esta nefasta crise nos oferece, vemos, sem vergonha alguma, pessoas deixarem seus afazeres e se imiscuírem às legítimas manifestações de protesto contra o mensalão da vez, ostentando faixas e bandeiras em defesa ilegítima de seu patrão, o governador deslegitimado, mas agora muito rico, José Roberto Arruda. Então encontrei outra boa frase e atribuída ao Marquês de Maricá, que diz: “ Um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto”.
E as cenas da manifestação de hoje (09), na Praça do Buriti, relembraram um momento que já estava se distanciando em nossa memória, quando o general Nilton Cruz, jogou sobre nós, o povo, sem a menor piedade seus cavalos, no ocaso da ditadura militar.
Inaceitável e vergonhoso! Depois das cenas degradantes que, de tão graves, não querem sair de nossas mentes, como as de Arruda recebendo ele próprio um pacote de dinheiro – de dinheiro sujo, tenham certeza -, de seus comandados na Câmara Legislativa embolsando grana emporcalhada por todas as partes do vestuário e até das meias; depois do festival de outros escândalos, como a divulgação do repentino enriquecimento do governador e de sua família, que moral pode ter esta pessoa para comandar repressão contra cidadãos que só desejam expressar um pouco de sua indignação contra esta usurpação? Que estupidez é esta e que despreparo é este no trato com movimentos sociais por parte de uma polícia que, pelo que se sabe é a mais bem paga do país? A que comando obedecem esses senhores da lei e da ordem arrudeana?
Não, não e não, senhores, vocês têm de reprimir é o crime e a corrupção que decepcionou e encheu de lama a cidade e não sua gente que luta para não se contaminar mais e não cair de cama com esse vírus sociopata. É uma pena mesmo, que a maioria de nossos companheiros do chamado movimento social tenham calado diante do primeiro mensalão, o do PT e de Lula, e por isso talvez possam ter permitido o uso de uma força tão estúpida como a que vimos hoje, em que uma criança de doze anos foi pisoteada.
Não estamos diante de um episódio qualquer, amigos, a crise em que estamos metidos diz respeito a um modelo de vida e pode significar a paralisia de nossa cidade e o prolongamento de um verdadeiro caos, se considerarmos a quantidade de obras em andamento. Se o mensalão do DF é maior ou menor que o mensalão do PT e de Lula, não vem ao caso agora, deixemos para outros atores esta disputa sem troféu honroso, mas tratemos de ampliar com toda a unidade possível este movimento contra a corrupção e pelo Fora Arruda e seus cúmplices. Isso é o que une a cidadania brasiliense, neste momento.
Tenho procurado me desfazer desse torpe estado de indignação em que me encontro para refletir melhor, mas não estou conseguindo. Escrevo, e temo estar sendo injusto, mas sigo com um gosto amargo e forte dessa traição que nos agonia a todos. Paro o penso, somos todos humanos, frágeis e, portanto, corruptíveis, será assim mesmo? Não, amigos, não, não e não. Não podemos deixar que tais e confusas elucubrações nos envolvam e retirem de nós a força e a energia da reação corrompendo também nosso pensar e agir. Estamos no caminho certo, ainda que dos 24 deputados distritais, já saibamos que dez estão sendo citados no embrulho da safadeza. Mas com a pressão organizada “não passarão”.
Vamos seguir protestando e acumulando forças em torno das bandeiras que agora nos unen, quais sejam, limpar Brasília da corrupção e encontrar um arranjo político pactuado capaz de provisoriamente dar sustentabilidade e prosseguir com as obras que de fato, provarem ser inadiáveis e importantes para a cidade. Esse é nosso dever de cidadania, e quem sabe encontraremos motivos para comemorar 50 anos de uma Brasília livre da roubalheira e da enganação.
Não à violência! Fora Arruda e cassação para os deputados vendidos e vendilhões!
Um comentário:
Caro Chico,
Seu texto expressa na medida aquilo que a maioria da população, excegto os amigos e apadrinhados de Arruda e de sua turma, estamos vivendo. Mas também acredito que reunindo o máxuimo de união a gente vai tirar esses crápulas de lá...
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