O repentino estouro de um esquema de corrupção, tendo como personagem central o atual governador do DF, José Roberto Arruda, fato que pegou a população de Brasília totalmente de surpresa desde sexta-feira (27) para cá, e que tomou conta da mídia local e nacional, torna a situação do governo insustentável sob todos os pontos de vista.
O escândalo revela esquema de suposto pagamento de propinas a membros do governo e a parlamentares distritais, e teria sido transportado desde o governo anterior, operado pelo denunciante, Durval Barbosa, que descortinou a trama no curso da nominada Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, em troca da chamada delação premiada, e que se acha envolvido em cerca de mais de vinte processos na justiça por desvio de dinheiro, fraudes e outros crimes e delitos.
As cenas são chocantes, absurdas e desveladoras. Arruda é pego recebendo uma bolada de dinheiro e nas fitas gravadas, fala sobre o destino do montante de grana suja arrecadada e repassado para ele e seus amigos. Em outros vídeos, aparece o presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente, o corregedor Júnior Brunelli, e outros parlamentares, bem como outras personalidades, como assessores diretos do governador. E num escárnio, aparece na mídia vídio em que Brunelli faz junto com Prudente e Durval Barbosa uma Oração de agradecimento pela propina. Pasmem!
A crise política no DF, protagonizada por seu principal mandatário, o governador Arruda, revela nas entranhas do poder, como Brasília tem sido vítima de um deturpado e tosco processo alienatório e da ausência quase por completo de bons quadros políticos, afora os grupos fisiológicos que se alternaram no poder basicamente desde que instituiu-se a eleição direta para governador, destacando a breve tentativa de interrupção nesse processo, pela frágil e pouco eficiente passagem do PT no governo entre 95 e 98.
Estamos diante de uma situação esdrúxula e inusitada sob o ponto de vista do arranjo institucional e dos desdobramentos que esta crise pode provocar, posto a cadeia de envolvidos que ela aponta, o que vai do governador, vice-governador, presidente da Câmara Legislativa e até membros do Poder Judiciário.
Dialeticamente, todavia, talvez estejamos vivendo uma bela oportunidade para tratar de educação política na cidade e no país. É pois momento de a cidadania ganhar as ruas e exigir em letras grandes não apenas a imediata saída do governador e seus cúmplices do governo, mas que se instalem no âmbito da Câmara Legislativa do DF uma CPI para apurar os fatos, e além dos possíveis crimes cometidos por ele, a participação dos parlamentares citados nesta vergonhosa trama, colocando para fora todos os novos mensaleiros. Cabe, por outro lado, investigação nas hostis do Judiciário, para igualmente apurar a participação de membros da corte local no escândalo.
Como membro e militante de um partido que fazia parte até hoje (30), da base de sustentação do governador Arruda deste sua eleição, pois sou filiado ao PPS, indignado que estou, defendi, nesta manhã em reunião da Executiva Regional o imediato rompimento com o governo, o afastamento do governador e propus a adoção de todas as medidas legais cabíveis para se apurar todos os crimes e por quem quer que seja, bem como a construção de um pacto para se restituir o governo à cidadania.
E diante desse descalabro acachapante ou de mais uma traição contra a cidadania brasiliense, algumas preocupações tomam conta do conjunto da população, tais como: quem irá governar a cidade, com a saída de Arruda? E o conjunto de quase 2 mil obras que transformaram a cidade num canteiro sem fim e fizeram do trânsito um caos ainda muito maior do que já era, como ficarão? E o emprego de centenas, talvez, milhares de pessoas, a maioria inocentes, no governo, como ficarão suas famílias?
Bem, afora o aparecimento, quem sabe, de um milagre que descaracterizasse tudo o que até aqui foi divulgado e que provasse a inocência do governador e de seus amigos, uma coisa parece clara: a cidade não pode parar. Cabe, portanto, aos democratas e aos cidadãos de Brasília ir se articulando sem demora no sentido de construírem-se, por exemplo, o cenário imediatamente pós saída de Arruda, qual seja, de organizar um governo transitório, composto de pessoas limpas politicamente e capazes de dar continuidade ao conjunto de plataformas estabelecidas, excetuando-se as excentricidades, como construção de novo estádio, novos e injustificáveis monumentos, mas, que, sobretudo, leve em conta que essa quantidade enorme de obras, quase todas necessárias, não percam continuidade também para se evitar desperdícios do dinheiro público.
Independentemente da decisão do governador, cabe à população de Brasiléia, traída que foi nesse deplorável esquema de corrupção, exigir sua imediata saída, seja por que meios for, para que o arranjo institucional proposto se consolide e possa dar curso à governabilidade com o máximo de transparência e publicidade na medida correta, preparando a máquina governamental para o período eleitoral de 2010. De preferência isso deve ser feito mediante a costura de um pacto envolvendo não apenas as principais forças políticas locais e nacionais, mas também o poder judiciário, e a OAB, que pelo que se sabe já acertadamente decidiu pelo pedido de empecheman de Arruda.
É isso amigos, apesar do momento desastroso porque estamos passando, da indignação e da perplexidade que parecem tomar conta da cidade, somente a educação política tratada como pedagogia da cidadania poderá mudar este estado de coisas. Quando alcançarmos um estágio desejado de cultura cívica e republicana, no qual as pessoas conscientemente participem, sem se alienarem, e portanto, sem se venderem, nos destinos de sua cidade e do país isso não mais acontecerá.
Voto não é pra se vender; mandatos são para serem exercidos com lealdade ao eleitor na plenitude da ação fiscalizatória. Fazer maiorias parlamentares comprando mandatos é um achincalhe à democracia e um desrespeito e desprezo à cidadania, algo que infelizmente não é novo em nosso país. Fora todos os envolvidos neste mar de lama!. Vamos construir uma cidadania saudável para o Distrito Federal!
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