*Chico Andrade
Dados divulgados pelo IBGE recentemente apontam que o Distrito Federal alcançou um crescimento anual de 1,97%, o dobro da média nacional. Isso, naturalmente, sem considerar as cidades do entorno do DF, como Aguas Lindas, cuja taxa de crescimento entre 2000 e 2007, foi de 6,2%, atingindo uma população de 178.461 habitantes.
Esses dados, apesar de uma avaliação tranquilizante como a que desejou fazer o atual Secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Cássio Taniguchi, não podem ensejar uma situação de normalidade, seja a que pretexto for. Basta um olhar um pouquinho mais comprometido, sobre nossa realidade socioeconômica e na perspectiva da ocupação urbana como vem se dando nas últimas décadas, para perceber a dimensão desse verdadeiro caos social que vem se formando ao redor de Brasília, sem que se dêem os necessários debates em torno do enfrentamento real da questão, pelos governo federal e local.
Em entrevista ao jornal JB Online, um morador de Aguas Lindas disse o seguinte: “Ninguém sai lá do nordeste para vir para Aguas Lindas. Eles saem para vir para Brasília. Eles sonham e não conseguem realizar o sonho deles, que é a busca por lotes mais baratos e por emprego. Aí vêm para cá”.
E parece ser absolutamente verdadeira a tese do entrevistado e morador de Aguas Lindas. Ocorre que, em um país de governantes com mais decência e responsabilidade social e nas dimensões em que é o Brasil, uma situação como a que rodeia Brasília há décadas já teria merecido ao menos um olhar mais preocupado. Ora, uma coisa é ponderar que a migração para o espaço urbano de Brasília e suas cidades-satélites possa estar diminuindo e caminhando para índices futuros toleráveis. Todavia, todos sabemos, os problemas do entorno não ficam restritos às suas cidades, mas ao contrário: explodem dentro do colo do governo e do orçamento do DF.
A greve dos trabalhadores no transporte urbano ocorrida semana passada em Aguas Lindas, apoiada pelas demandas do abandono em que vive sua população, a greve de fome ensaiada pelo prefeito de Planaltina de Goiás, para baixar o preço das passagens de ônibus, há algumas semanas, são apenas detalhes dessa realidade de aglomerações urbanas formadas em decorrência da absoluta falta de planejamento.
É estranho que autoridades do atual governo, na visão de que a responsabilidade de tal situação não é deles, - responsabilidade pretérita, convenhamos - ficarem sinalizando, até de certa forma, contemplativamente, com um quadro tão grave como é o acelerado crescimento populacional, e não é apenas das cidades do entorno, sem as exigidas contrapartidas de geração de emprego e renda e a implantação de infraestrutura urbana básica e serviços, como escolas, hospitais, assistência policial, etc. Fato é, que as consequências de tudo isso já assustam, e recairão ainda de modo mais assombroso sobre a população de Brasília – a capital das desigualdades - e suas limitadas estruturas. Como exemplo, a precária e insuficiente performance da saúde pública , cujo orçamento tem que atender, além das demandas do DF, todo o entorno e mais um conjunto de municípios que vai de Goiás até a Bahia.
Que tal uma urgente e ampla retomada do tema da implantação da RIDE com a devida seriedade. A cidadania é nula diante do alheamento social. Vamos participar!
2 comentários:
Caro Chico Andrade,
Há muito venho tentando, como é de seu conhecimento, encetar uma discussão sobre o entorno do DF com a seriedade que o amigo apregoa. Esta matéria vem ao encontro daquilo que realmente é necessário. Para início de discussão sugiro resgatar um trabalho do presidente da CODEPLAN, Rogério Rosso, que trata da unificação de algumas cidades ao DF.
Concordo plenamente com o grande chico, o entorno de Brasília é problema do DF bem mais que de Goiás, as pessoas que lá residem são frutos da expropriação de Brasilia.
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