*Chico Andrade
Desde os primórdios da civilização homens e mulheres foram amealhando espaços, desbravando caminhos, aperfeiçoando as técnicas de lutas pela sobrevivência, superando as ignorâncias originais e, com o advento das cidades, foram aos poucos, vencendo a alienação natural, para o alcance do que chamamos de civilidade.
Na atualidade de um mundo sem fronteiras, vivemos o desafio de prosseguir nesta caminhada civilizatória sem destruir o que ainda nos resta de um meio ambiente saudável e ecologicamente sustentável. A humanização dos espaços urbanos, hoje amplamente dominados pela ganância do capital imobiliário e pelas tragédias de um mundo cada vez mais desigual e injusto (pobreza, violências, exclusão, preconceitos e abusos de todas as formas e, especialmente a segregação), são fatores que mais e mais alimentam o grave quadro de iniqüidades sociais nas cidades de nosso país e inquietam as mentes daqueles que não se conformam com tal situação.
Nada obstante, entendemos que é preciso seguir no esforço de convencer outras pessoas, e despertá-las para a importância de participarem da vida cívico/política nas suas cidades, apontando as soluções para os problemas de seus bairros, buscando a oferta de serviços públicos com mais qualidade e respeito. Uma cidade acolhedora e harmoniosa é possível tanto quanto for a representação e a intermediação de seus habitantes, no sentido desse objetivo, basta que despertemos para a superação de alguns obstáculos, como o aparente desinteresse e alienação.
E na raiz desse aparente desinteresse e dessa constatada alienação reside algo que há muito foi semeado entre nós, pelas elites dominantes, para exatamente manterem-se as coisas como sempre estiveram: a manipulação.
E os sofisticados meios de comunicação que invadem nossas casas diariamente servem como correia de transmissão desse não-fazer nada, dessa apatia cívica, a partir de uma abordagem fantasiosa de nossa realidade social ou da repetição cínica de um espetáculo imitativo e perverso que apenas reproduz mais indignação entre aquelas camadas já marginalizadas das favelas e bairros periféricos para os quais a ausência de planejamento e o egoísmo das mentes dominantes os empurrou.
Vivemos, portanto, e isso não é percorrer a teoria do caos, mas antes uma inegável constatação, uma fase de degradação e de negação de valores que somente poderá ser vencida com maciços investimentos em educação, saúde, transporte e outros serviços públicos de mais qualidade.
Entretanto, para vislumbrarmos as saídas para este atual cenário, ou para se evitar o agravamento desse quadro de caos urbano em que se tornaram a maioria das cidades brasileiras, situação que Brasília e suas cidades-satélites muito bem representam, é preciso que haja um urgente despertar de todos nós.
E é neste ponto que desejamos chamar a atenção especialmente dos militantes do PPS, agora que nos preparamos para realizar o nosso IX Congresso Distrital. Ou seja, se de fato falamos de cidadania, precisamos exercitá-la com sentido pedagógico, pois é nas cidades, nos bairros e quadras onde moramos onde deveríamos devotar o melhor de nossas energias e experiências para transformar esses espaços de asfalto e concreto, em espaços, de fato, civilizados. Em lugares aonde nossas vivências encontrem a satisfação de ruas e praças limpas e em harmonia com a natureza, de pistas para caminhadas conservadas, de parques preservados e harmonizados, de mais locais destinados ao entretenimento esportivo e para o lazer, bem como para o acolhimento de idosos, etc.
Por outro lado, a despeito de um velho e desprovido discurso autoritário, não há mais sentido em não votarmos para escolher os nossos administradores regionais. Ainda que não enxerquemos no voto a solução para tudo, as experiências indicam que quanto mais votamos mais aprendemos, quanto mais participamos dos destinos, da gestão dos negócios públicos, mais eficientes serviços alcançamos. E mais, a medida em que exercemos mais fiscalização, os governos e gestores públicos tornan-se mais transparentes e eficientes, e em conseqüência , o dinheiro público é melhor aplicado e o Estado cumpre melhor o seu papel.
Mas essas mudanças só serão possíveis com uma outra mudança que tem que ser antecedente a qualquer outra: a mudança comportamental, fazendo-nos cidadãos, de fato e de direito. Não podemos exigir um Estado justo e nem almejar uma sociedade menos desigual e solidária se não cumprimos o que nos cabe enquanto obrigação cívica, participando e fiscalizando principalmente.
Há décadas observamos uma crise nas instituições e uma crescente desconfiança na democracia e nas suas promessas. Todavia, constata-se, que esse cenário é tão mais grave quanto maior é a ausência de participação das pessoas e seu descaso com as coisas públicas. E a luta para fazer da democracia um instrumento e caminho efetivo para as mudanças que enxergamos necessárias na sociedade só se viabiliza quando nos dedicamos bem mais além das nossas responsabilidades individuais e familiares. Para ser um cidadão ou uma cidadã ativos é preciso romper com a apatia e o conformismo, repelir a idéia de que política é feita somente para os corruptos e aproveitadores de sempre.
Outra desmistificação também é importante que façamos, no sentido de que a política não deve ser apenas confundida com os maus-feitos dos políticos, com o desapego à ética, à moral e à virtude públicas, mas ao contrário: defendemos e temos que afirmar isto – política é o exercício mais nobre e sublime da cidadania, para a construção de um mundo melhor e mais justo.
Daí a importância de recuperarmos esse sentido nobre e educativo da política, tal como se fazia na praça pública de Atenas há mais de 2 mil e trezentos anos - ainda que com bem poucos cidadãos -, mas ali se reuniam as pessoas reconhecidas como tal na Ágora, para debater problemas e encaminhar as soluções às demandas da cidade e do povo, no que os clássicos apontam como o embrião da democracia direta.
Será que se estivéssemos organizados realmente, motivando as pessoas a se tornarem cidadãos, não teríamos impedido problemas como os da especulação e da ganância imobiliária – quando adquirem projeções para construir prédios com até 10 pavimentos e constroem de 20 ou trinta; quando em conluio com a má-fé de políticos desonestos, modificam a destinação de terrenos para edificações originalmente não permitidas e mais lucrativas; quando abusam do meio-ambiente -, problemas que colocam em risco o futuro de nossa cidade e reduzem a perspectiva de uma vida urbana harmoniosa?
A reflexão sobre tudo isso, pode ser angustiante e até aterrorizante, mas é absolutamente oportuna. Ou nos dedicamos pra valer sobre os problemas de nossas cidades, entendendo que eles não são responsabilidade apenas dos governos, ou dos administradores de plantão, mas antes nossa, ou em pouco tempo Brasília e as cidades-satélites, que hoje já se encontram cercadas por outros mais graves reclames sociais sucumbirão diante de um caos urbano que já está dado.
Há um equívoco que precisamos com urgência corrigir, o de ficarmos esperando os momentos eleitorais para ver pela televisão o debate pouco provido de valor dessas questões. E se há algo que as elites dominantes de sempre e os mega-especuladores imobiliários cultuam é a nossa inércia, o nosso alheamento. Sem a nossa participação, sem cobrança eles fazem o que querem, pois não são eles nem seus amigos que sofrem e vão sofrer mais ainda com o caos do trânsito, com o meio ambiente degradado e com o estresse e as outras doenças psíquicas e sociais que assolam as populações urbanas, sobretudo as que residem nas periferias mais distantes.
O PPS acertadamente vem colocando a disposição de sua militância e da população em geral em todo o país este legítimo e oportuno debate sobre o poder local. Sugerindo uma tomada de posição por cada um de nós e por todos coletivamente, para transformarmos as nossas cidades já tão degradadas em lugares mais aprazíveis para se viver. Mas para pensarmos em poder, é preciso ter propostas que modifiquem o que está errado e apontem para a correção de rumos. E isso somente é possível com participação e interesse de fato em se fazer cidadão.
Diante dessas considerações, defendemos um debate sincero e democrático em torno da eleição dos administradores regionais, com mais autonomia política em relação ao GDF, e da institucionalização do “Conselho Comunitário”, - algo que a Lei orgânica do DF parece já prever – e que não precisa necessariamente ser remunerado, para, além de fiscalizar a boa aplicação dos orçamentos de cada Região, apoiar os gestores no compartilhamento das demandas locais e na mediação dos problemas, buscando-se os consensos possíveis, mas incorporando, sobretudo, as energias humanas disponíveis.
Esta, sabemos, não é uma proposta exatamente nova, mas é inovadora dos costumes e possibilita aprofundar a democracia e dar poder efetivo à comunidade.
Não podemos acreditar na passividade e na alienação como algo definitivo, pois não é. As pessoas precisam ser motivadas a exercerem seus direitos e elas querem se ver cidadãos e cidadãs. Cabe aos partidos políticos prioritariamente essa tarefa.
Na atualidade de um mundo sem fronteiras, vivemos o desafio de prosseguir nesta caminhada civilizatória sem destruir o que ainda nos resta de um meio ambiente saudável e ecologicamente sustentável. A humanização dos espaços urbanos, hoje amplamente dominados pela ganância do capital imobiliário e pelas tragédias de um mundo cada vez mais desigual e injusto (pobreza, violências, exclusão, preconceitos e abusos de todas as formas e, especialmente a segregação), são fatores que mais e mais alimentam o grave quadro de iniqüidades sociais nas cidades de nosso país e inquietam as mentes daqueles que não se conformam com tal situação.
Nada obstante, entendemos que é preciso seguir no esforço de convencer outras pessoas, e despertá-las para a importância de participarem da vida cívico/política nas suas cidades, apontando as soluções para os problemas de seus bairros, buscando a oferta de serviços públicos com mais qualidade e respeito. Uma cidade acolhedora e harmoniosa é possível tanto quanto for a representação e a intermediação de seus habitantes, no sentido desse objetivo, basta que despertemos para a superação de alguns obstáculos, como o aparente desinteresse e alienação.
E na raiz desse aparente desinteresse e dessa constatada alienação reside algo que há muito foi semeado entre nós, pelas elites dominantes, para exatamente manterem-se as coisas como sempre estiveram: a manipulação.
E os sofisticados meios de comunicação que invadem nossas casas diariamente servem como correia de transmissão desse não-fazer nada, dessa apatia cívica, a partir de uma abordagem fantasiosa de nossa realidade social ou da repetição cínica de um espetáculo imitativo e perverso que apenas reproduz mais indignação entre aquelas camadas já marginalizadas das favelas e bairros periféricos para os quais a ausência de planejamento e o egoísmo das mentes dominantes os empurrou.
Vivemos, portanto, e isso não é percorrer a teoria do caos, mas antes uma inegável constatação, uma fase de degradação e de negação de valores que somente poderá ser vencida com maciços investimentos em educação, saúde, transporte e outros serviços públicos de mais qualidade.
Entretanto, para vislumbrarmos as saídas para este atual cenário, ou para se evitar o agravamento desse quadro de caos urbano em que se tornaram a maioria das cidades brasileiras, situação que Brasília e suas cidades-satélites muito bem representam, é preciso que haja um urgente despertar de todos nós.
E é neste ponto que desejamos chamar a atenção especialmente dos militantes do PPS, agora que nos preparamos para realizar o nosso IX Congresso Distrital. Ou seja, se de fato falamos de cidadania, precisamos exercitá-la com sentido pedagógico, pois é nas cidades, nos bairros e quadras onde moramos onde deveríamos devotar o melhor de nossas energias e experiências para transformar esses espaços de asfalto e concreto, em espaços, de fato, civilizados. Em lugares aonde nossas vivências encontrem a satisfação de ruas e praças limpas e em harmonia com a natureza, de pistas para caminhadas conservadas, de parques preservados e harmonizados, de mais locais destinados ao entretenimento esportivo e para o lazer, bem como para o acolhimento de idosos, etc.
Por outro lado, a despeito de um velho e desprovido discurso autoritário, não há mais sentido em não votarmos para escolher os nossos administradores regionais. Ainda que não enxerquemos no voto a solução para tudo, as experiências indicam que quanto mais votamos mais aprendemos, quanto mais participamos dos destinos, da gestão dos negócios públicos, mais eficientes serviços alcançamos. E mais, a medida em que exercemos mais fiscalização, os governos e gestores públicos tornan-se mais transparentes e eficientes, e em conseqüência , o dinheiro público é melhor aplicado e o Estado cumpre melhor o seu papel.
Mas essas mudanças só serão possíveis com uma outra mudança que tem que ser antecedente a qualquer outra: a mudança comportamental, fazendo-nos cidadãos, de fato e de direito. Não podemos exigir um Estado justo e nem almejar uma sociedade menos desigual e solidária se não cumprimos o que nos cabe enquanto obrigação cívica, participando e fiscalizando principalmente.
Há décadas observamos uma crise nas instituições e uma crescente desconfiança na democracia e nas suas promessas. Todavia, constata-se, que esse cenário é tão mais grave quanto maior é a ausência de participação das pessoas e seu descaso com as coisas públicas. E a luta para fazer da democracia um instrumento e caminho efetivo para as mudanças que enxergamos necessárias na sociedade só se viabiliza quando nos dedicamos bem mais além das nossas responsabilidades individuais e familiares. Para ser um cidadão ou uma cidadã ativos é preciso romper com a apatia e o conformismo, repelir a idéia de que política é feita somente para os corruptos e aproveitadores de sempre.
Outra desmistificação também é importante que façamos, no sentido de que a política não deve ser apenas confundida com os maus-feitos dos políticos, com o desapego à ética, à moral e à virtude públicas, mas ao contrário: defendemos e temos que afirmar isto – política é o exercício mais nobre e sublime da cidadania, para a construção de um mundo melhor e mais justo.
Daí a importância de recuperarmos esse sentido nobre e educativo da política, tal como se fazia na praça pública de Atenas há mais de 2 mil e trezentos anos - ainda que com bem poucos cidadãos -, mas ali se reuniam as pessoas reconhecidas como tal na Ágora, para debater problemas e encaminhar as soluções às demandas da cidade e do povo, no que os clássicos apontam como o embrião da democracia direta.
Será que se estivéssemos organizados realmente, motivando as pessoas a se tornarem cidadãos, não teríamos impedido problemas como os da especulação e da ganância imobiliária – quando adquirem projeções para construir prédios com até 10 pavimentos e constroem de 20 ou trinta; quando em conluio com a má-fé de políticos desonestos, modificam a destinação de terrenos para edificações originalmente não permitidas e mais lucrativas; quando abusam do meio-ambiente -, problemas que colocam em risco o futuro de nossa cidade e reduzem a perspectiva de uma vida urbana harmoniosa?
A reflexão sobre tudo isso, pode ser angustiante e até aterrorizante, mas é absolutamente oportuna. Ou nos dedicamos pra valer sobre os problemas de nossas cidades, entendendo que eles não são responsabilidade apenas dos governos, ou dos administradores de plantão, mas antes nossa, ou em pouco tempo Brasília e as cidades-satélites, que hoje já se encontram cercadas por outros mais graves reclames sociais sucumbirão diante de um caos urbano que já está dado.
Há um equívoco que precisamos com urgência corrigir, o de ficarmos esperando os momentos eleitorais para ver pela televisão o debate pouco provido de valor dessas questões. E se há algo que as elites dominantes de sempre e os mega-especuladores imobiliários cultuam é a nossa inércia, o nosso alheamento. Sem a nossa participação, sem cobrança eles fazem o que querem, pois não são eles nem seus amigos que sofrem e vão sofrer mais ainda com o caos do trânsito, com o meio ambiente degradado e com o estresse e as outras doenças psíquicas e sociais que assolam as populações urbanas, sobretudo as que residem nas periferias mais distantes.
O PPS acertadamente vem colocando a disposição de sua militância e da população em geral em todo o país este legítimo e oportuno debate sobre o poder local. Sugerindo uma tomada de posição por cada um de nós e por todos coletivamente, para transformarmos as nossas cidades já tão degradadas em lugares mais aprazíveis para se viver. Mas para pensarmos em poder, é preciso ter propostas que modifiquem o que está errado e apontem para a correção de rumos. E isso somente é possível com participação e interesse de fato em se fazer cidadão.
Diante dessas considerações, defendemos um debate sincero e democrático em torno da eleição dos administradores regionais, com mais autonomia política em relação ao GDF, e da institucionalização do “Conselho Comunitário”, - algo que a Lei orgânica do DF parece já prever – e que não precisa necessariamente ser remunerado, para, além de fiscalizar a boa aplicação dos orçamentos de cada Região, apoiar os gestores no compartilhamento das demandas locais e na mediação dos problemas, buscando-se os consensos possíveis, mas incorporando, sobretudo, as energias humanas disponíveis.
Esta, sabemos, não é uma proposta exatamente nova, mas é inovadora dos costumes e possibilita aprofundar a democracia e dar poder efetivo à comunidade.
Não podemos acreditar na passividade e na alienação como algo definitivo, pois não é. As pessoas precisam ser motivadas a exercerem seus direitos e elas querem se ver cidadãos e cidadãs. Cabe aos partidos políticos prioritariamente essa tarefa.
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