* Chico Andrade
O artigo do colunista Clovis Rossi, publicado na Folha de S.Paulo hoje, que a seguir reproduzo, bem ilustra e corrobora a tese "o país das desigualdades", sobre a qual venho insistentemente repercutindo, na expectativa de despertar no conjunto de nossas vivências sociais e de nossas consciências a importância e a necessidade de continuarmos lutando contra esse mal maior em nosso país; mal que, em minha opinião, Brasília igualmente ostenta como capital.
E os resultados apresentados pelo Enem, apenas se somam a um conjunto de outras evidências estatísticas de nossa perversa realidade sócio-econômica.
E muitos ficam assustados com o que poderíamos chamar de bola da vez, os escândalos, as transgressões e outros mal-feitos e desapegos éticos cometidos por grande parcela de nossos parlamentares, ora sendo denunciados pela imprensa. O bom nisso, é o constrangimento que tais denúncias estão causando neles, obrigando-os a, logo após bravejarem cinicamente em defesa de seus injustificáveis privilégios a se retratarem e até mesmo, ao menos de público, mudarem de idéia.
Tudo isso, amigos, tem a ver e muito com a luta que travo em defesa da educação política, da educação para a cidadania.
Talvez fosse interessante se fazer uma pesquisa sobre o que as pessoas pensam do significado da palavra república, ou melhor, republicano. Pois se ainda não aprendemos sequer a discernir sobre o que nos pertence e o que é público, não podemos mesmo mandar para o parlamento representantes para mudar esta triste situação de pobreza, de deseducação e, sobretudo de desigualdades.
Aproveito a oportunidade, para saudar a todos os trabalhadores e trabalhadoras, (empregados ou não), neste 1º de maio, na esperança de que, com o despertar de cada um, possamos fazer nossa cidade e nosso país menos injustos e, assim, podermos comemorar com mais entusiasmo o dia do trabalho, como o dia da efetiva libertação...
Leiam com atenção o que diz Clovis Rossi e reflitam sobre o que venho falando.
A fábrica da desigualdade
CLÓVIS ROSSI
SÃO PAULO - Perdoe o leitor se insisto no tema da desigualdade. Mas, se o presidente Lula pôde dizer uma vez que, qualquer dia, alguém o apontaria como "o chato do etanol", de tanto que fala no assunto, não me incomoda tornar-me "o chato da desigualdade".É, afinal, a maior chaga aberta na pátria. Chaga que tem sido escamoteada pela lenda de sua queda, baseada em pesquisas que apontam apenas a diminuição da desigualdade entre salários, não entre rendimentos do capital e do trabalho -essa sim a grande diferença.Para piorar ainda mais as coisas, há o fato de que a desigualdade é não apenas de renda mas também de oportunidades, de que dá contundente prova o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio.Aceitando o precioso ensinamento contido na análise de Antônio Gois na Folha de ontem, nem vou falar da abissal diferença de desempenho entre escolas públicas e privadas, velha conhecida.O ponto principal, exposto por Gois e também por Reynaldo Fernandes, responsável pelo Inep, o instituto que faz o exame, é este: "Nenhuma prova mede só a qualidade da escola. Mede a do aluno, a formação dos pais e o contexto socioeconômico", como diz Reynaldo Fernandes.Tradução: filho de família pobre vai para escola pobre (no sentido de qualidade de ensino), filho de rico, para escolas mais equipadas. Consequência inexorável: o filho do rico tem mais possibilidades, também pela educação, de continuar rico ou ficar mais rico, enquanto ao filho do pobre o que se oferece é uma grande chance de perpetuação da pobreza -e, por extensão, da desigualdade com o concorrente rico.Fecha o círculo a afirmação de Fernandes de que "esse resultado se repete ano a ano", coisa, de resto, que todos estamos cansados de saber. Traduzindo: ano a ano, mantemos o molde da desigualdade.
crossi@uol.com.br
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