Realidade do Setor Itapuã
* Chico Andrade
Não precisa ser nenhum grande estudioso para partilhar desse debate tão candente, que é o de como nossa cidade, - projetada que foi, para ser outra que não o que chamo de paraíso das desigualdades - tal é a situação de desproporcionalidades entre ricos e pobres no Distrito Federal.
Esse quadro melhor se explique, talvez, ao compararmos a realidade entre os afortunados nascidos de uma emergente classe média, praticamente dona dos melhores empregos públicos, face a uma melhor capacitação que pode oferecer a seus filhos, e o resto, a imensa maioria da população, dependente da oferta de empregos e subempregos na prestação de serviços ou no comércio.
Em pesquisa recentemente divulgada, o IBGE aponta que Brasília é a terceira, pasmem, a terceira cidade mais rica do país, em contrapartida desponta como a primeira no ranking nacional de desigualdade social.
O que tais dados poderiam explicar ou sugerir, sob o ponto de vista dos principais problemas enfrentados pelos brasilienses, tais como o perigoso grau de violências juvenis, o altíssimo consumo de drogas pelas diversas classes econômicas, a aberração do transporte público, o baixo salário dos professores da rede pública?
Enquanto isso, o atual governo alardeia o "empreendimento do século", com o lançamento do Setor Noroeste, algo que em minha visão, e sem me ater aos problemas de ordem ambiental, e também, creiam, sem nenhuma intenção de ressuscitar o debate sectarizado da "luta de classes", vem apenas tornar mais agudos os traços de uma infeliz e cruel segregação.
A criação de um bairro ainda mais exclusivo para os ricos, em detrimento da implementação de políticas públicas consistentes para o enfrentamento desse apartaide social das cidades-satélites é algo que se caracteriza de modo ainda mais aviltante quando reparamos os efeitos dos mais recentes assentamentos urbanos aqui instalados, como é o caso de Itapuã.
Ora, qual será a explicação para o poder público ceder assim tão fácil ao apelo da sanha do ramo imobiliário privado no Distrito Federal? E por que o tal bairro já nasce assim tão hipervalorizado? Terá sido a garantia de que por lá pobre não passa, a não ser para servir como criados, pois parece apenas isso que as pessoas humildes e sem grandes oportunidades na vida são, para boa parte dessa elite pouco preocupada com mais alguém além de si mesma?
Será que se se pensasse a partir de uma lógica menos elitizante, mais humana e inclusiva, sob qualquer ponto de vista, não seria outro o papel dos governos, ao invés de incentivarem ainda mais esse perverso quadro de iniquidades sociais e de desigualdades?
Por que não destinar terrenos nas atuais cidades-satélites para construções mais requintadas, para os mais abastados, investindo ao mesmo tempo na melhoria das moradias já existentes, oferecendo incentivos financeiros para reformas residenciais aos seus proprietários, ou na construção de prédios públicos de melhor qualidade, como os das Escolas, dos Postos de Saúde, de Bibliotecas Públicas, ampliando o alcance do metrô, Creches comunitárias, etc.
Por outro lado, estão ainda em franca construção bairros com perfil de classe média, como Aguas Claras, além da destinação para tal de espaços como o do Jockei Club, que fica entre a Estrutural e o Guará. Isso pra não falarmos do absurdo que fizeram em nome de um Plano Diretor Local do Guará, permitindo que novas construções tenham prédios de até mais de vinte pavimentos, algo que após os sinais de reação da comunidade o governo resolveu rever.
Estamos diante um claro exemplo da falta de participação cívica da sociedade, da ausência de engajamento político-social das pessoas nos destinos da cidade.
É fato que uma requintada elite econômica, intelectual e social se apropria – e a culpa não é dela, pois os conquista com méritos, mas de um modelo econômico concentrador e segregacionista - cada vez mais da maior parte das riquezas orçamentárias do Distrito Federal, em função de sua condição econômico-hereditária, que faz, praticamente, reserva de mercado, os bons empregos públicos que pagam altos salários, em detrimento de uma média salarial bastante aquém destes.
Também não é menos verdade o fosso de miséria que tal realidade vai retroalimentando, fazendo com que Brasília, em tempo breve se iguale a cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte e outras, no que respeita à gama de problemas sociais com os quais se defrontam e que parece insuperáveis.
Diante de uma realidade assim tão alienada de valores humanos e tão perversamente disforme no que respeita à oferta de oportunidades iguais para todos, algo que parece apenas existir como utopia, fica a pergunta: a geração que virá a partir de nossos filhos em Brasília terá alguma chance de vida decente ou terá ela que se preparar para uma verdadeira guerra contra esse infame apartaide social que por conta de erros históricos e de falta de planejamento adequado e também em nome do egoísmo material aqui se plantou e reina?
Esta é uma oportuna provocação que faço sobre um tema que precisa com urgência ser enfrentado por todos antes que se reproduza completamente por aqui o estado de guerra não-declarado, a exemplo do que ocorre nas cidades anteriormente citadas, e que em nome do egoísmo e do consumismo alienantes se apele para coisas como a pena de morte. Mas de morte para pobres, apenas, deve ser...
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4 comentários:
Chico, eu acho que lá no nordeste as desigualdades são muito maiores. Eu estive em Maceió e só no litoral era legal. À medida que vc vai pro interior, é pior que qualquer Estrutural + Ceilândia. Os opostos são chocantes e gritantes.
Fátima.
Chico meu amigo, estou divulgando o seu trabalho para vários amigos meus, em breve teremos pessoas nos apoiando.
Abraços.
Att.Claudson Renan
Que bom q existem pessoas conscientes q se preocupam realmente com esses problemas , tão evidentes e gritantes.
Problemas esses q geralmente são completamente ignorados e desprezados por muitos.
Visite meu blog para trocarmos opiniões, artigos, idéias.
Marilda
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
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