Um grupo de 20 refugiados palestinos vindos do Iraque está acampado em Brasília, em frente à sede do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), para exigir que seja transferido para outro país.

Quata-feira, 24 de dezembro de 2008 - Pág. A8
Mundo
Refugiados acampam em Brasília por repatriamento
SOFIA FERNANDES
Há meses, palestinos vindos do Iraque reclamam do tratamento recebido no Brasil
Acnur diz que grupo é de pessoas problemáticas e rejeitadas por outros países que possuem programas para reassentamento
Um grupo de 20 refugiados palestinos vindos do Iraque está acampado em Brasília, em frente à sede do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), para exigir que seja transferido para outro país. Eles estão assentados no Brasil desde 2007, a maioria em Mogi das Cruzes (SP), Santa Maria e Venâncio Aires (RS). Reclamam de falta de assistência médica, de corte dos benefícios e de dificuldade de integração no novo país.
Há oito meses, a primeira leva de acampados fez de ônibus o caminho de 1.053 km de Mogi das Cruzes a Brasília. Eram três pessoas, incluindo Farouk Mansour, 60, que protesta por não ter recebido assistência adequada para problemas na coluna e nos dentes.
Desde então, estão alojados em barracas de plástico, forradas e revestidas de madeira e papelão, úmido por conta das chuvas de fim de ano, no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. Do lado de fora, estão estendidas bandeiras de protesto e uma do Brasil, país de que eles dizem gostar, mas pelo qual afirmam não ser respeitados.
Mansour conta que desde maio toma banho no lago Paranoá, a poucos passos do acampamento, come o que recebe de doação e dos frutos de uma mangueira plantada perto da sua barraca. Não recebe o benefício do programa de reassentamento desde que iniciou o protesto e perdeu o aluguel de sua casa em Mogi das Cruzes. Fuma sem parar cigarro contrabandeado e bate as cinzas numa casca de coco.
Na semana passada, quatro famílias se juntaram ao primeiro grupo. Entre os novos acampados, estão mulheres e crianças, incluindo um bebê de um mês de vida. Dizem que só abandonam o acampamento quando forem transferidos para outro país.
Dois irmãos com problemas cardíacos vieram de Venâncio Aires (RS) de ônibus, uma viagem de dois dias. Um deles está internado em um hospital da rede pública de saúde por conta do agravamento de seu quadro. A mãe do doente chora a todo momento.
Issam Samir Oraby, o terceiro irmão, precisou segurar sua mãe pelos braços durante um acesso de raiva pela saúde do filho. Ele reclama que após um ano assentado no Brasil ainda não conseguiu emprego. "Quero sair daqui, quero viajar para qualquer canto."
Rejeitados
Em setembro de 2007, 108 refugiados palestinos chegaram ao Brasil atendidos pelo programa do governo federal de reassentamento. Eles viviam no Iraque, mas, com a invasão americana e a guerra (2003), foram reassentados na Jordânia e depois conduzidos ao Brasil, onde têm direitos de cidadão, como saúde e educação gratuitas, exceto o de votar, e aulas de português.
Em casos mais graves, o Acnur, agência da ONU responsável por conduzir ações de proteção e por facilitar a naturalização dos refugiados, fica encarregado de pagar tratamento médico particular.
Segundo o Acnur, o grupo acolhido pelo Brasil é composto por indivíduos rejeitados por todos os outros países que têm programas de reassentamento. São em maioria pessoas mais velhas ou de saúde precária.
O organismo afirma que as queixas do grupo acampado não se referem a todos os refugiados. Alguns já estão integrados, trabalham e estudam.
"Esse é um grupo problemático", disse Javier López Cifuentes, representante do Acnur no Brasil, em referência à idade e aos problemas de saúde dos integrantes.
A agência informou que conversou com embaixadas de países com programas de reassentamento, mas nenhum por enquanto aceitou acolher os refugiados palestinos.
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