terça-feira, 24 de novembro de 2009

Visita de Ahmadinejad expõe perigo de amizades de Lula


Incoerente, desconfortável e descabida a recepção oferecida pelo presidente Lula a seu amigo do Irã Mahmud Ahmadinejad., chefe de um governo ditatorial, repressivo e comprovadamente desrespeitoso com os direitos humanos.

Do ponto de vista da democracia, dos direitos humanos e da história que caracteriza o Brasil, nas suas relações internacionais já por cerca de 140 anos, por uma cultura de paz e de não-intervenção, não há como explicar a atitude pra lá de cordial de Lula ao receber com pompas o chefe de um regime que vem se caracterizando pelo desrespeito à pluralidade de visões, e por sua extremada atitude de intolerância com os grupos e religiões diferentes do islamismo em seu país, como a perseguição ferrenha que comete contra os Baha'is, por exemplo, que segundo as contas de seus representantes no Brasil, já tiveram mais de 250 pessoas executadas, nos últimos anos no Irã.

Foram tímidos os protestos contra a visita de Ahmadinejad, que tenta disfarçar seu gosto pela provocação e pelo conflito. Depois de negar a existência do Holocausto que assassinou cerca de seis milhões de judeus apenas na segunda guerra mundial, o ditador iraniano procura desconversar sobre o que realmente pensa sobre a paz, sobre os direitos humanos e sobre o respeito às minorias. Em seu país, além da perseguição religiosa aos que não processam a fé muçulmana, são igualmente castigados e torturados outras minorias, como os homossexuais e opositores de seu governo, de cuja última eleição saíram derrotados pela mais cristalina fraude, algo questionado até por aiatolás de seu funestro regime.

Mas parece que para Lula nada disso importa, desde que receba o apoio de que precisa para ser indicado ao Conselho de Segurança da ONU. Entre as muitas personalidades e intelectuais democratas que ousaram se manifestar contrários à indesejável presença do ditador iraniano no Brasil, vale destacar artigos como os de Denis Lerrer Rosenfield, professor de filosofia da UFRGS, (Estado de S.Paulo, 23/11), do governador de São Paulo, José Serra(Folha de S.Paulo, 24/11), entre dezenas de outros protestos.

O governador paulista destaca que “Democracia e direitos humanos são indivisíveis e devem ser defendidos em qualquer parte do mundo”, e acrescenta que “tampouco é admissível honrar os que deram a vida para combater a ditadura no Brasil, na Argentina ou no Chile e confraternizar-se com os que torturam e condenam à morte os opositores no Irã”. E alerta ainda, que, “não tem sentido receber de braços abertos o homem cujo ministro da Defesa é procurado pela Interpol devido ao atentado ao Centro Comunitário judaico em Buenos Aires, que causou a morte em 1944 de 85 pessoas”.

E do Brasil Ahmadinejad segue ao encontro de seus outros amigos na América do Sul, Evo Morales, da Bolívia e depois, é claro, Hugo Chaves, na Venezuela.

Vai ficando cada dia mais clara a opção do presidente Lula à regimes e chefes de governos autoritários ou tendentes à ditadura, sem que os “nossos” antigos movimentos sociais e “democráticos” se manifestem a respeito. Aliás, alguns dos bem cooptados, nesse aspecto, até já deram as caras, mas, pasmem, para apoiar tal postura, assim como calam diante de outros desrespeitos contra a liberdade, em países vizinhos e bem conhecidos nossos.

É por essas e outras que precisamos acordar urgente para uma educação política que transcenda esse perigoso conluio pseudo-ideológico, que nada pode mais representar de útil senão a formação de um novo muro, feito à base da intolerância e da vontade de se eternizar no poder, a qualquer custo.

E antes que ergam por completo as paredes dessa muralha de cinismo e de contradições que ora ameaçam os que de fato se preocupam com a verdadeira paz mundial e que vêem a democracia como caminho político para a superação das desigualdades e para uma sociedade menos injusta temos de mobilizar o que ainda resta de cidadania crítica em nosso país. Ou daqui a pouco elles - essa embebecida classe operária chegada ao paraíso - vão estar gritando de público e sem vergonha alguma louvores a Hugo Chaves ou sugerindo como modelo ideal regimes como o iraniano, já que democracia, ora bolas, isso é coisa de liberais e conservadores que não querem dar bolsa-família ao povo...

Um comentário:

Marinês disse...

É Chico, haja capacidade para entender as perigosas relações do nosso presidente. E isso parece que já tá ficando meio manjado e, como você diz, sem que se esbocem reações para tal.