quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sociólogo Rudá Ricci questiona sobre o fim da era dos movimentos sociais brasileiros

Em artigo publicado ontem (20), no jornal Folha de S.Paulo, o sociólogo e membro do Observatório Internacional da Democracia participativa,  Rudá Ricci, traça um retrato atual dos movimentos sociais no Brasil, e o compara com a década de 80, por exemplo, quando Frei Betto sugeria que sindicatos, partidos e organizações sociais eram ferramentas do que denominava "movimento popular".

O artigo oferece elementos dos mais reflexivos e interessantes para que possamos analisar a realidade atual da ação do conjunto dos movimentos sociais organizados no país da Era Lula.

Uma coisa que creio deva ser separada de uma crítica menos elaborada, é a constatação de que muitos  dos militantes e ativistas daquele período e de várias áreas hoje estarem ocupando cargos no governo ou nos governos.  Apesar de me preocupar o tal aparelhamento das instituições, preocupa-me mais ainda, a nomeação de pessoas pouco ou sem nenhuma afinidade com as atividades para as quais são deslocadas.

Entretanto, isso é fato, a ausência de ação efetiva, de contestações, ou de manifestações públicas desses chamados movimentos sociais para com os diversos desvios  éticos e acontecimentos públicos deploráveis ocorridos principalmente depois de 2003, é algo tão absurdo quanto alienante. Ora, aos avanços obtidos na estrutura social e adoção e ampliação de políticas compensatórias ou assistencialistas, particularmente deslanchadas a partir de meados do primeiro mandato de Lula, não há como desconhecer. Todavia, as perguntas feitas por Rudá Ricci, que abaixo transcrevemos,  parece bem adequadas aos questionamentos sobre qual o papel dos movimentos sociais num país que ainda ostenta os níveis de desigualdade como o Brasil.

"Fica a dúvida:  a "era dos movimentos sociais" teria terminado no Brasil? A fragmentação social em curso e a ampliação da participação da sociedade civil no interior do aparelho do Estado teriam reformatado o que antes denominávamos "movimentos sociais? Os movimentos sociais brasileiros são representações ou parte integrante de anéis burocráticos de elaboração de políticas públicas?"

E de novo para que fique claro, nada tenho contra a participação de pessoas que acumularam experiências no nosso chamado "movimento social", em instâncias diversas das máquinas governamentais, desde que, a rigor, os indicados tenham efetivamente as qualidades mínimas exigidas para tal. Se for assim, podem mesmo contribuir e muito para as soluções de tantos e tantos conflitos sociais oriundos de um modelo econômico elitista e segregador, e que continua a realimentar nossas metrópoles principalmente, com mais violências sociais e mais pobreza.

E o problema maior na análise deste assunto está justamente onde paramos no parágrafo anterior. Na constatação de que os males sociais do Brasil não foram resolvidos com a chegada ao poder de Lula e seus bons amigos. Se diminuíram-se os índices de pobreza, aqui e ali, ou se tiramos algumas centenas de pessoas da faixa da miséria - e isso é verdade -, se foram adotadas algumas políticas públicas, como por exemplo, o Prouni, entre outras, que restam acertadas, ante as circunstâncias, tanto da crueldade de nossa apartação social, quanto de quem foi eleito - considerando sua origem e engajamento -, mas negando a afirmação dos nossos amigos do Programa Casseta Urgente, "nossos pobremas não acabarium".

Então, clamo, primeiro por uma retomada de ação pelos movimentos sociais ainda não-institucionalizados, no dizer acertado do sociólogo Ricci, e no plano seguinte, pelo surgimento de novas e mais descomprometidas lideranças populares para que possamos reacender as chamas da cidadania  não-burocratizada nos diversos movimentos sociais e nos setores do nosso  país aonde apesar das carências, do clamor por ajuda limpa, nos bolsões de desempregados e subempregados, suas demandas por falta de organização e, muitas vezes, da ação do estado e de noções básicas de civismo, ainda não se configuram como movimentos. Embora representem sim o movimento ou o enorme nicho dos desamparados, dos sem-sindicatos e sem-representação alguma. E essa gente, é uma pena, é quem serve para reabastecer os políticos fisiológicos e populistas de votos e de poder...

Vamos pensar nisto? Comente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mas, afinal, meu caro Chico, o que são os movimenos sociais, hoje? Concordo com as suas e também do sociólogo Rudá, sobre o possível fim, pelo menos, o fim do ativismo daquelas instituições.