terça-feira, 22 de setembro de 2009

Você sabe o que é comportamento bullying?


*Chico Andrade

A terminologia pode ser recente, mas o assunto, sua prática e consequências para vítimas e agressores são antigos no ambiente escolar em todo o mundo.

Apesar de não me considerar exatamente um educador, pois não estou em sala de aula, penso todavia, que uma matéria como esta, que causa tamanha perplexidade, pelos seus reflexos nas vidas, tanto de quem é vitimado quanto dos chamados agressores, ou aqueles que cometem o bullying, merece com urgência um tratamento público e político o mais amplo e aprofundado possível.

O que me chamou a atenção para uma reflexão sobre o bulling, foi o fato de ter sido convidado para uma palestra na Escola de meu filho, e não podendo comparecer, recorri das informações à minha filha, que é professora de educação infantil no mesmo colégio. Depois fui lembrar que, provavelmente devo ter presenciado sem o interesse devido, a debate sobre a matéria na Comissão de Educação da Câmara.

A palavra bullying deriva do verbo inglês bully, que significa usar a superioridade física para intimidar alguém. Adota, também, aspecto de adjetivo, o termo tem sido utilizado em vários países para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, intencional e repetitivo inerente às relações interpessoais, especialmente no ambiente escolar, sendo que suas vítimas são geralmente indivíduos ou crianças e adolescentes mais frágeis dessa relação, transformados em objeto de diversão e prazer pelo agressor ou grupo de agressores, por meio de “brincadeiras” maldosas e intimidadoras.

Mas estudiosos afirmam que o fenômeno bullying pode ocorrer também entre professores e em outros ambientes, como nas Forças Armadas, em locais de trabalho, sendo que nestes casos, caracteriza-se como assédio moral, haja vista o aspecto preponderante de força e poder envolvidos.

Segundo especialistas, as agressões e pressões psicológicas se dão de várias maneiras, e suas consequências podem levar tanto ao isolamento, quanto a comportamentos igualmente agressivos e violentos, por parte das vítimas, podendo em casos extremos, como ocorreu nos Estados Unidos a suicídios e a homicídios.

De acordo com a professora e pesquisadora no assunto Cleodelice Aparecida Zonato Fante, da universidade de ilhas Baleares, Espanha:  "O bullying é um conceito específico e muito bem definido, uma vez que não se confunde com outras formas de violência. Isso se justifica pelo fato de apresentar características próprias, dentre elas, talvez a mais grave, seja a propriedade de causar “traumas” ao psiquismo de suas vítimas e envolvidos”

A pesquisadora revela que as causas desse tipo de comportamento abusivo são inúmeras e mariadas e que decorrem de carência afetiva, à ausência de limites e ao modo de afirmação de poder e de autoridade dos pais sobre os filhos, por meio de práticas educativas que incluem maus tratos físicos e explosões emocionais violentas. E acrescenta a professora Cleodelice, que: “Em nossos estudos constatamos que 80 por cento daqueles classificados como “agressores”, atribuem como causa principal do seu comportamento, a necessidade de reproduzir contra outros os maus-tratos sofridos em casa ou na escola”.

O estudo da pesquisadora Cleodelice Aparecida destaca que este fenômeno comportamental atinge a área mais preciosa, íntima e inviolável do ser, a sua alma. Envolve e vitimiza, na tenra idade escolar, tornando-a refém de ansiedade e de emoções, que interferem negativamente nos seus processos de aprendizagem devido à excessiva mobilização de emoções de medo, de angústia e de raiva reprimida

Para muitos estudiosos, as consequências do bullying são danosas à personalidade futura das crianças e adolescentes, levando-as a comportamentos sociais e emocionais não apenas agressivos, mas fisicamente violentos, posto que se calaram pela intimidação e coação, diante de agressões maldosas, segregadoras e negativamente indutivas ao isolamento e ao silêncio, na idade tenra.

Diante do medo da violência urbana que cresce assustadoramente, e da cada vez mais visível degradação de valores e da ausência da educação no ambiente familiar – a maioria dos pais, por terem ambos de trabalhar fora pra compor o orçamento doméstico, abre mão de seu papel como educador – o debate desse fenômeno torna-se indispensável, senão por uma questão de consciência social, faz-se, sem dúvida, obrigatório, entre pais que têm filhos em idade escolar nas referidas categorias de infância e adolescência.

O assunto, por outro lado, ganhou mais evidência, durante a exibição da novela caminho das Índias, pela rede Globo de televisão recentemente, momento em que a autora explicitamente tratou do assunto, tanto abordando os lados agressor e vítima, quanto da questão irresponsabilidade ou responsabilidade dos país do aluno-agressor, denunciando falsos valores, alhemento dos grupos envolvidos e procedimentos deploráveis do ponto de vista da educação e do relacionamento humano.

Temos notícias de que em São Paulo já há parlamentares encaminhando Projetos de Leis no sentido de se estabelecer critérios de tratamento e regras específicas para os casos de bullyng nas escolas do estado.

Como trata-se de uma questão comportamental, a simples aprovação de leis para reger esta abominável forma de agressão talvez não seja suficiente. É preciso ir além, pois estamos diante de uma situação que bem discutida poderá nos levar à mudanças paradigmáticas nos modos de vidas que levamos e no que respeita à perspectiva das futuras gerações.

Afinal de contas, para formar bons cidadãos é preciso sim que haja bons educadores, mas, antes de mais nada, os pais ou responsáveis pelo ambiente familiar devem minimamente cumprirem seu papel de primeiros educadores e formadores de consciências.

Já quanto a tragédia social daquelas crianças e adolescentes que, ou vivem na rua ou convivem num ambiente doméstico hostil e violento, sem afeto e sem as condições adequadas para um crescimento saudável, só resta a ação firme e decidida do Estado, por meio de políticas públicas protecionistas, ou talvez da melhor aplicação das leis, haja vista que temos o ECA e um conjunto de outros normativos em vigor, mas que não são eficientemente observados.

O assunto é dos mais interessantes e graves para pessoas como eu e tantos outros em nosso país, quase-leigos em respostas, mas de cuja responsabilidade não podemos fugir. Daí que, na minha visão, requer ser tratado com urgência e à luz de várias vertentes. Primeiro, com sentido pedagógico, segundo, na perspectiva sócio-educativa, terceiro, com responsabilidade social e, por ultimo, com o entendimento de fazer com que os governos assumam a matéria como forma de se interferir nesta perversa proliferação de violências sociais cujas causas nem sempre decorrem apenas das condições econômicas adversas, mas da ausência de consciência do papel de cada um de nós e da absoluta falta de cidadania coletiva.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom esse assunto, que precisa ser melhor repercutido...

Anônimo disse...

Na FATEC SP, no curso de Secretariado, isso ocorre com uma frequencia alarmante, até os professores são vítimas.