*Chico Andrade
*Anderson Martins
Ante as recentes notícias, veiculadas na mídia nacional, dando conta de articulações para a fusão do PPS com o PSDB, e para contraargumentar os defensores de tal tese, recorro aqui, pedindo a devida permissão seja lá onde repouse seu espírito, ao teórico e revolucionário russo que fez carreira no século XX, Georgi Plekhanov, em seu "O papel do indivíduo na história".
Então, nascido do útero primeiro do ideal comunista e das lutas operárias no Brasil, do PCB de 1922, o PPS, cujos estatutos reivindicam esta história e herança, no desafio de seu parto, em 1992, e aqui me auto-confesso e critico, sem minha participação, já apontava para a necessidade de se construir uma nova e democrática esquerda em nosso país. Isto porque, certamente, naquela era pós-comunista, do fim da "guerra fria" e da derrubada do muro, já havíamos identificado que o os outros partidos de esquerda organizados em solo brasileiro não acumularam as experiências democráticas para operar as transformações sociais que se exigiam. Por outro lado, o outro partido fundado do rompimento com o PMDB, reivindicando-se social-democrata, o PSDB, creio, não oferecia ao país e especialmente aos que ousaram fundar o PPS esta perspectiva de nova esquerda.
O que mudou de lá para cá? Fica a impressão de que mal se utilizam da premissa de que todo partido só se organiza em função do poder, ou para conquistar o poder, algo com que não concordo inteiramente, abdicando das lutas sociais? Pois ainda que tal premissa fosse de todo verdadeira, então por que desejamos estar no poder, se nada diferente temos para apresentar?
O PPS surge, como bancada no Congresso Nacional, com apenas três representantes na Câmara dos deputados, em 1992, oriundos do velho PCB. Nas eleições de 1994, elegemos Roberto Freire senador e apenas dois deputados, sem contar aqueles que se agregaram ao partido logo após a posse e outros que vieram junto com a chegada de Ciro Gomes, para as eleições de 1998, ano em que novamente não passamos de uma bancada de três parlamentares.
Apesar de pequeno, o partido teve sempre um papel de destaque no cenário nacional, especialmente pela ousadia de buscar a construção de um outro espaço de debate político, sem medo da polêmica e do enfrentamento de temas não-convencionais. Dizíamos incorporar, de um lado, aquilo que chamamos de "as melhores e mais ricas tradições do velho partidão", e de outro, enfrentamos em campo aberto tanto uma velha e insistente visão de esquerda tradicional, maniqueísta e sustentada num corporativismo arraigado, como fizemos oposição firme às práticas clientelistas e às tentativas de desrespeito à democracia e aos direitos sociais no Congresso Nacional.
Fomos, entre os partidos de esquerda assumidos no Brasil, talvez o único a propugnar por um debate radicalmente democrático, embora não disséssemos com clareza o que isso significava. Todavia, já havíamos decidido romper com os dogmas do centralismo democrático, de certos simbolismos e da antiga concepção comunista autoritária, ainda antes mesmo da fundação do PPS, nos debates do 8º Congresso do PCB, realizado no Rio de Janeiro.
Entretanto, em qualquer lugar em que estivesse um comunista oriundo do PCB, parlamentar ou não, era sinal de uma discussão propositivamente agradável, de não-alinhamento com o passado simplesmente, mas ao contrário, eivada em inspirações inovadoras, da possibilidade e da busca sem medo por novos paradigmas, da defesa da democracia como valor universal e da importância da paz e de uma sociedade plural e mais justa.
E a prova de que o tamanho não representava e não representa tudo, é que durante esse período, os nossos parlamentares eram referência para qualquer debate, destacando-se seguidamente entre aqueles mais influentes no Congresso Nacional. Mais ainda, fomos peça importante já nas eleições presidenciais de 1998, e em 2002, quando lançamos Ciro Gomes, mas com forte peso das cores e da história do partido, tivemos outro destacado papel, inclusive para o resultado final daquele pleito. E é importante mencionar que tínhamos uma atuação independente no Congresso.
Tudo isso se deu debaixo de uma ameaça constante: a cláusula de barreira, que em virtude da qual fomos levamos mais tarde a uma estranha e pragmática fusão, com partidos que nada tinham a ver com nossos princípios e história, formando a malfadada e, felizmente breve MD.
O partido também nasceu propondo uma "Nova Formação" política, algo que parece, em função das circunstâncias, não encontrou a esperada adesão e respaldo. Mas resistiu, nada obstante as diferenças, digamos, filosóficas e metodológicas entre os membros de nossas bancadas, tanto na Câmara dos Deputados, como imagino nas Assembléias Estaduais e legislativos municipais.
O que não consigo entender é o motivo e a pressa de se estar agora propondo uma fusão com o PSDB, partido com o qual, é verdade, vimos nos alinhando nos últimos anos, principalmente como oposição ao governo federal, depois que resolvemos, ao meu ver, acertadamente, deixar a base do 1º governo Lula. Os argumentos de que nos saímos mal das eleições municipais, embora o resultado tenha de fato sido ruim, são inconsistentes, haja vista já termos com antecedência uma espectativa, no mínimo, ponderada, do resultado do pleito passado recentemente, desde que corajosamente resolvemos partir para a oposição.
Pois, convenhamos, fazer oposição a um governo cujo presidente originário das lutas populares e de esquerda, que procurou cercar-se de uma espécie de manto protetor, nos chamados movimentos sociais organizados de esquerda, "comprando" lideranças com cargos e outros favores, a despeito do protagonismo inédito, de patrocinar um verdadeiro festival de desvios morais e éticos, de se ver envolvido nas piores e mais escabrosas denúncias de corrupção, acabou se reelegendo e, como resultado da herança de uma eficiente política econômica e de um cenário internacional amplamente lhe favorável, surfou em popularidade nos últimos dois anos, principalmente.
Uma coisa, assim penso, é, como oposição, apontarmos para a sociedade e até mesmo ajudarmos a construir um projeto alternativo para 2010, junto com o PSDB e seus potenciais candidados a presidência da república. Outra, é, desde já, abrirmos mão de nossa independência e de um papel histórico que é nosso, como articulador e propositor de alternativas. Ora, se não pensamos igual ao PT e discordamos de seus métodos no poder, bastante natural que tenhamos ido para o campo oposto. Entretanto, ao que me lembre, nunca fizemos um debate aberto acerca de nos filiarmos à social-democracia. Mais ainda, a meio das constantes transformações sócio-econômicas no Brasil e no mundo, nas últimas duas décadas, da celeridade do processo tecnológico e de suas conseqüências, sempre procuramos tirar de tudo isto o melhor e mais didático proveito para nossa perspectiva transformadora.
Outro argumento neste instante utilizado é o da guilhotina de uma nova reforma política, através da qual pode vir o fim das coligações para eleições proporcionais, (o que considero um avanço), a chamada "janela" de mudança de partido, que não creio seja feita assim de repente, e de novo a volta da cláusula de barreira. Mas qual o problema em tudo isso, porque tanto temor? Já passamos por crises semelhantes e não desaparecemos. Por que ao invés da pressa em por fim a algo que sequer concluímos ainda, não lutamos para organizarmos o partido nos Estados, como alguns já o estão fazendo?
Ainda temos um papel a cumprir. E estrutura, - para quem resistiu sem nada, com 3, 2 e quatro parlamentares, - creio temos de sobra para elegermos em 2010, uma boa e mais identificada bancada para a Câmara dos Deputados. E sem querer apenas ser otimista, cito os exemplos do Paraná, de Minas Gerais, de São Paulo, do Espírito Santo, da Região Sul, aonde podemos ampliar nossa representação. E com investimento na organização e em formação, creio que mesmo no nordeste podemos melhorar nosso desempenho. Até porque, e mesmo com a perspectiva de uma reforma política trazer a tal janela, quem poderá afirmar que isso se dará em nosso prejuízo, diante do tradicional jogo de interesses que ocorre, principalmente nos últimos dois anos que antecedem uma eleição presidencial como a que se avizinha.
Repito, o papel do nosso PPS na história ainda está inconcluso. Por isso, ao invés de falarmos em fusão e nos precipitarmos por caminhos que não são os nossos, deveríamos retomar e já a organização, por meio de novas e mais qualificadas filiações, dos cursos de formação e prepararmos o partido para os próximos pleitos eleitorais, regressando às lutas e movimentos sociais como atores que antes fomos. "Muitos se perderam no caminho", já disse o poeta mineiro, mas outros e não são poucos em nosso país, ainda esperam por nossa luta. E querem lutar conosco!
Então, nascido do útero primeiro do ideal comunista e das lutas operárias no Brasil, do PCB de 1922, o PPS, cujos estatutos reivindicam esta história e herança, no desafio de seu parto, em 1992, e aqui me auto-confesso e critico, sem minha participação, já apontava para a necessidade de se construir uma nova e democrática esquerda em nosso país. Isto porque, certamente, naquela era pós-comunista, do fim da "guerra fria" e da derrubada do muro, já havíamos identificado que o os outros partidos de esquerda organizados em solo brasileiro não acumularam as experiências democráticas para operar as transformações sociais que se exigiam. Por outro lado, o outro partido fundado do rompimento com o PMDB, reivindicando-se social-democrata, o PSDB, creio, não oferecia ao país e especialmente aos que ousaram fundar o PPS esta perspectiva de nova esquerda.
O que mudou de lá para cá? Fica a impressão de que mal se utilizam da premissa de que todo partido só se organiza em função do poder, ou para conquistar o poder, algo com que não concordo inteiramente, abdicando das lutas sociais? Pois ainda que tal premissa fosse de todo verdadeira, então por que desejamos estar no poder, se nada diferente temos para apresentar?
O PPS surge, como bancada no Congresso Nacional, com apenas três representantes na Câmara dos deputados, em 1992, oriundos do velho PCB. Nas eleições de 1994, elegemos Roberto Freire senador e apenas dois deputados, sem contar aqueles que se agregaram ao partido logo após a posse e outros que vieram junto com a chegada de Ciro Gomes, para as eleições de 1998, ano em que novamente não passamos de uma bancada de três parlamentares.
Apesar de pequeno, o partido teve sempre um papel de destaque no cenário nacional, especialmente pela ousadia de buscar a construção de um outro espaço de debate político, sem medo da polêmica e do enfrentamento de temas não-convencionais. Dizíamos incorporar, de um lado, aquilo que chamamos de "as melhores e mais ricas tradições do velho partidão", e de outro, enfrentamos em campo aberto tanto uma velha e insistente visão de esquerda tradicional, maniqueísta e sustentada num corporativismo arraigado, como fizemos oposição firme às práticas clientelistas e às tentativas de desrespeito à democracia e aos direitos sociais no Congresso Nacional.
Fomos, entre os partidos de esquerda assumidos no Brasil, talvez o único a propugnar por um debate radicalmente democrático, embora não disséssemos com clareza o que isso significava. Todavia, já havíamos decidido romper com os dogmas do centralismo democrático, de certos simbolismos e da antiga concepção comunista autoritária, ainda antes mesmo da fundação do PPS, nos debates do 8º Congresso do PCB, realizado no Rio de Janeiro.
Entretanto, em qualquer lugar em que estivesse um comunista oriundo do PCB, parlamentar ou não, era sinal de uma discussão propositivamente agradável, de não-alinhamento com o passado simplesmente, mas ao contrário, eivada em inspirações inovadoras, da possibilidade e da busca sem medo por novos paradigmas, da defesa da democracia como valor universal e da importância da paz e de uma sociedade plural e mais justa.
E a prova de que o tamanho não representava e não representa tudo, é que durante esse período, os nossos parlamentares eram referência para qualquer debate, destacando-se seguidamente entre aqueles mais influentes no Congresso Nacional. Mais ainda, fomos peça importante já nas eleições presidenciais de 1998, e em 2002, quando lançamos Ciro Gomes, mas com forte peso das cores e da história do partido, tivemos outro destacado papel, inclusive para o resultado final daquele pleito. E é importante mencionar que tínhamos uma atuação independente no Congresso.
Tudo isso se deu debaixo de uma ameaça constante: a cláusula de barreira, que em virtude da qual fomos levamos mais tarde a uma estranha e pragmática fusão, com partidos que nada tinham a ver com nossos princípios e história, formando a malfadada e, felizmente breve MD.
O partido também nasceu propondo uma "Nova Formação" política, algo que parece, em função das circunstâncias, não encontrou a esperada adesão e respaldo. Mas resistiu, nada obstante as diferenças, digamos, filosóficas e metodológicas entre os membros de nossas bancadas, tanto na Câmara dos Deputados, como imagino nas Assembléias Estaduais e legislativos municipais.
O que não consigo entender é o motivo e a pressa de se estar agora propondo uma fusão com o PSDB, partido com o qual, é verdade, vimos nos alinhando nos últimos anos, principalmente como oposição ao governo federal, depois que resolvemos, ao meu ver, acertadamente, deixar a base do 1º governo Lula. Os argumentos de que nos saímos mal das eleições municipais, embora o resultado tenha de fato sido ruim, são inconsistentes, haja vista já termos com antecedência uma espectativa, no mínimo, ponderada, do resultado do pleito passado recentemente, desde que corajosamente resolvemos partir para a oposição.
Pois, convenhamos, fazer oposição a um governo cujo presidente originário das lutas populares e de esquerda, que procurou cercar-se de uma espécie de manto protetor, nos chamados movimentos sociais organizados de esquerda, "comprando" lideranças com cargos e outros favores, a despeito do protagonismo inédito, de patrocinar um verdadeiro festival de desvios morais e éticos, de se ver envolvido nas piores e mais escabrosas denúncias de corrupção, acabou se reelegendo e, como resultado da herança de uma eficiente política econômica e de um cenário internacional amplamente lhe favorável, surfou em popularidade nos últimos dois anos, principalmente.
Uma coisa, assim penso, é, como oposição, apontarmos para a sociedade e até mesmo ajudarmos a construir um projeto alternativo para 2010, junto com o PSDB e seus potenciais candidados a presidência da república. Outra, é, desde já, abrirmos mão de nossa independência e de um papel histórico que é nosso, como articulador e propositor de alternativas. Ora, se não pensamos igual ao PT e discordamos de seus métodos no poder, bastante natural que tenhamos ido para o campo oposto. Entretanto, ao que me lembre, nunca fizemos um debate aberto acerca de nos filiarmos à social-democracia. Mais ainda, a meio das constantes transformações sócio-econômicas no Brasil e no mundo, nas últimas duas décadas, da celeridade do processo tecnológico e de suas conseqüências, sempre procuramos tirar de tudo isto o melhor e mais didático proveito para nossa perspectiva transformadora.
Outro argumento neste instante utilizado é o da guilhotina de uma nova reforma política, através da qual pode vir o fim das coligações para eleições proporcionais, (o que considero um avanço), a chamada "janela" de mudança de partido, que não creio seja feita assim de repente, e de novo a volta da cláusula de barreira. Mas qual o problema em tudo isso, porque tanto temor? Já passamos por crises semelhantes e não desaparecemos. Por que ao invés da pressa em por fim a algo que sequer concluímos ainda, não lutamos para organizarmos o partido nos Estados, como alguns já o estão fazendo?
Ainda temos um papel a cumprir. E estrutura, - para quem resistiu sem nada, com 3, 2 e quatro parlamentares, - creio temos de sobra para elegermos em 2010, uma boa e mais identificada bancada para a Câmara dos Deputados. E sem querer apenas ser otimista, cito os exemplos do Paraná, de Minas Gerais, de São Paulo, do Espírito Santo, da Região Sul, aonde podemos ampliar nossa representação. E com investimento na organização e em formação, creio que mesmo no nordeste podemos melhorar nosso desempenho. Até porque, e mesmo com a perspectiva de uma reforma política trazer a tal janela, quem poderá afirmar que isso se dará em nosso prejuízo, diante do tradicional jogo de interesses que ocorre, principalmente nos últimos dois anos que antecedem uma eleição presidencial como a que se avizinha.
Repito, o papel do nosso PPS na história ainda está inconcluso. Por isso, ao invés de falarmos em fusão e nos precipitarmos por caminhos que não são os nossos, deveríamos retomar e já a organização, por meio de novas e mais qualificadas filiações, dos cursos de formação e prepararmos o partido para os próximos pleitos eleitorais, regressando às lutas e movimentos sociais como atores que antes fomos. "Muitos se perderam no caminho", já disse o poeta mineiro, mas outros e não são poucos em nosso país, ainda esperam por nossa luta. E querem lutar conosco!
*Chico Andrade; Clique em "Visualizar meu perfil completo" neste blog.
*Anderson Martins; Graduação em Zootecnia pela FTB. Capacitação Política: História Política do Brasil e Sistemas Eleitorais pelo Cefor/CD. Assessor da Liderança do PPS na Câmara Federal, nas áreas de Viação, Transporte e Trânsito e Segurança Pública e Defesa Nacional. Dirigente do PPS e Secretário-Geral do Diretório Zonal do Guará/DF. Militou no movimento estudantil e de juventude pela Juventude Popular Socialista - JPS, sendo Dirigente da UNE e Presidente do Diretório Regional do DF e Secretário Nacional de Organização da JPS.
andersonferreiramartins@gmail.com


2 comentários:
Por alguns anos participei ativamente de algumas atividades políticas, porém, a forma de se conduzir política em nosso país, fez minha crença em um debate político sério e de interesse coletivo reduzir a cada dia. Talvez seja por isso que causou-me uma grande satisfação e uma renovação de esperança não só encontrar esse espaço, dedicado ao conhecimento político e de exercício da cidadania, mas também saber que pessoas como você, Chico, ainda lutam por um sonho possível em nosso Brasil: o sonho de resgatá-lo. Um resgate responsável, sem vaidades, sem máscaras. Construir essa política, tão bem detalhada em seu texto e pautada na discussão da “possibilidade e da busca sem medo por novos paradigmas, da defesa da democracia como valor universal e da importância da paz e de uma sociedade plural e mais justa”, é abrir um caminho mais largo para o povo brasileiro. Esta é a minha esperança. É nisso que eu acredito! Parabéns!
Francisco Fernando dos Santos
Brasília-DF
É isso aí Fernando. Acredito mesmo, que apesar das dificuldades, dos incrédulos e oportunistas de sempre, ainda é possível buscarmos a realização de projetos qeu levem em conta a pluralidade, o respeito às diferenças e calcado na tolerância. A democracia em nosso país, para ser o caminho da superação das enormes desigualdades sociais e dos preconceitos, somente se consolidará a partir disso, creio.
Grande abraço!
Postar um comentário